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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 449<br />

Quem viu jamais condenar por delitos os que podiam ser merecimentos? Quem<br />

viu pagar com afrontas obséquios amorosos e com <strong>da</strong>r-me culpas de roubar-te,<br />

despojares-me <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, arriscares-me a vi<strong>da</strong> e desluzires-me a honra? Se<br />

não foi poderoso meu amor, sen<strong>do</strong> gigante, para abrir em teu peito de<br />

diamante a menor brecha, como abririam minhas mãos os escritórios de teus<br />

diamantes? E desejan<strong>do</strong> eu possuir quantos produz o Oriente para oferecer-<br />

tos, me culpas que me cegaria a cobiça <strong>do</strong>s teus para roubá-los? Deixa-me,<br />

ingrata, e não intentes com tua vista duplicar o intenso a meus pesares, porque<br />

vivo de ti tão justamente queixoso que te desejo ver com extremos cruel, só<br />

para não dever-te a menor sombra de pie<strong>da</strong>de.<br />

Acompanharam as lágrimas de senti<strong>do</strong> os breves perío<strong>do</strong>s de queixoso,<br />

a que a pie<strong>da</strong>de de Flora, não menos chorosa que enterneci<strong>da</strong>, respondeu<br />

assim:<br />

- Culpas-me, Reginal<strong>do</strong>, de cruel? Ó nunca me fizera o amor tão<br />

compassiva, que a ser assim tu te queixaras menos e eu não sentiria mais!<br />

Prova é de amar o sofrimento, que nele consiste a valentia <strong>do</strong> querer: aonde<br />

viste diamante que se acreditasse de o ser por sofrer pouco? Quanto tem o<br />

amor de constante, tanto tem de fino: que desmaiar aos primeiros combates é<br />

desluzimento <strong>do</strong> valor. Respondi-te severa por fazer experiência <strong>do</strong>s extremos<br />

com que me amavas; pouco abonaste o querer, pois te persuadiste a ausentar<br />

e pusestes em dúvi<strong>da</strong>s o fino, por te mostrares no desespera<strong>do</strong> tão grosseiro.<br />

Nem a quem eu era convinha responder-te mais amante, nem são gloriosos os<br />

triunfos quan<strong>do</strong> se conseguem sem resistências: pois as vitórias sem riscos e<br />

desvelos alcança<strong>da</strong>s mais abonam a ventura que o valor. Foram teus<br />

pensamentos bem nasci<strong>do</strong>s e teu pouco sofrimento os fazia malogra<strong>do</strong>s: que<br />

jamais impaciências facilitaram as esperanças. Tu me deixavas e eu te<br />

busquei; mais abonei eu o amar-te <strong>do</strong> que tu o querer-me: que meter ausências<br />

em meio é desterrar sem culpas ao amor. Dirás que te culpei nas jóias<br />

injustamente; mas dize-me, que motivo podia eu buscar para deter-te sem<br />

declarar-me? Mais poderás agradecer-me o engano que ressentir-te <strong>do</strong> agravo,<br />

pois em mim foi fineza o que julgas tirania. Para satisfazer as tuas queixas e<br />

pagar o que publicas de amante <strong>do</strong>u palavra firme de ser tua esposa e como tal<br />

a qualquer parte seguir-te, para que vejas se sei amar mais fino <strong>do</strong> que tu<br />

soubeste obrigar-me constante.

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