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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 357<br />

tormentos experimenta; que crecem as moléstias com os anos, os pesares com<br />

a i<strong>da</strong>de e os achaques com o curso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Mas quem em poucos anos<br />

acabou a jorna<strong>da</strong>, acabou as penas e deu princípio às glórias. Duvi<strong>da</strong>va-se <strong>do</strong><br />

dia, não <strong>do</strong> termo, diz o Séneca. Venturoso quem primeiro chega a possuir,<br />

pois de um salto to<strong>da</strong>s as moléstias soube passar e vencer.<br />

Sentis que lhe abreviaram a vi<strong>da</strong> os sentimentos? Venturosos foram,<br />

pois vos deram desenganos; que como ânimos honra<strong>do</strong>s sentem mais as<br />

desconfianças de seu bom proceder que qualquer outra moléstia de passar; ela<br />

<strong>da</strong>ria por bem emprega<strong>da</strong> a morte, a troco de ficar sua leal<strong>da</strong>de conheci<strong>da</strong>.<br />

Mais sentiu Lucrécia o labéu que Tarquino queria pôr à sua fama <strong>do</strong> que perder<br />

às suas mãos a vi<strong>da</strong>. Se tanto vos entristeceis de que com vossas<br />

desconfianças ocasionastes sua morte: não vos desconsoleis, que não seria<br />

essa a causa total de acabar a vi<strong>da</strong>; que, se o termo era chega<strong>do</strong>, qualquer<br />

achaque bastava para ser executor de seus perío<strong>do</strong>s; que se estava decreta<strong>do</strong><br />

que ela não vivesse mais, pouca causa era poderosa para que fosse a vi<strong>da</strong><br />

menos. Pouco veneno bastou para matar a Alexandre e muito não bastou para<br />

tirar a vi<strong>da</strong> a Mitri<strong>da</strong>tes. A quem vai vizinho ao temor de seus dias pouca causa<br />

basta e a quem tem vi<strong>da</strong> que cursar nenhum motivo empece. Não tinha mais<br />

vi<strong>da</strong> que lograr e assim qualquer ocasião havia de ser mortal. Sentis que lhe<br />

causastes os desgostos? Consolai-vos, pois lhe pedistes deles perdão. E se<br />

sentiu que errásteis em culpá-la, também teve o alívio de conhecer que vos<br />

arrependestes de ofendê-la. Fácil é, diz o Cícero 355 , de alcançar o perdão,<br />

quem chega a publicar o erro que emprendeu. Pudera ela morrer com a mágoa<br />

de ver sua inocência culpa<strong>da</strong> e não de ver vossa paixão arrependi<strong>da</strong>.<br />

Venturoso fostes em experimentardes que vos amou até [à] morte e não<br />

poderdes imaginar vos ofendera na vi<strong>da</strong>.<br />

Sentis, senhor Alexandre, que lhe não pudestes pagar as finezas<br />

grandes que lhe devíeis? Se a paga nunca podia cabalmente satisfazê-las,<br />

paga é o confessar que não podiam ser pagas; que assim como negar o<br />

benefício recebi<strong>do</strong> é a maior ingratidão, assim pelo contrário o confessá-lo tem<br />

o lugar <strong>do</strong> agradecimento; e ficais desempenha<strong>do</strong> no desejo, já que não<br />

pudestes desempenhar-vos de to<strong>do</strong> na satisfação. Sentis que, deven<strong>do</strong>-lhe a<br />

Cie, in Vat.

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