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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte III 499<br />

agradeci<strong>do</strong> <strong>do</strong> bem que nisto havia obra<strong>do</strong>, se embarcou com Carlos para as<br />

suas terras a tratar <strong>do</strong>s negócios de seu esta<strong>do</strong>. Ficou Flora em companhia de<br />

Lívia, que como mãe a consolava, se fora capaz de admitir consolação a pena<br />

de suas sau<strong>da</strong>des. Que como estas tem só o alívio nas esperanças, sen<strong>do</strong> tão<br />

incertas, igualmente o é o alívio que nelas se sustenta.<br />

Raimun<strong>do</strong>, que <strong>do</strong>s olhos de Flora estava bem feri<strong>do</strong> e mal cura<strong>do</strong>,<br />

ven<strong>do</strong> a Reginal<strong>do</strong> ausente e discursan<strong>do</strong>, como homem de juízo, que em<br />

guerra tão arrisca<strong>da</strong> quem ia a merecer como amante o subir a ser seu esposo,<br />

levava mais certo o perigo que a ventura, porque para valer se havia mais que<br />

to<strong>do</strong>s arriscar e nos arrojos de querer luzir estava o <strong>da</strong>no de a vi<strong>da</strong> lhe faltar,<br />

intentou o ser esposo de Flora, quan<strong>do</strong> seu pensamento ver<strong>da</strong>deiro saísse.<br />

Leva<strong>do</strong> deste cui<strong>da</strong><strong>do</strong> vendeu a nau à senhoria de Veneza, que como<br />

necessitava de embarcações para esta guerra, lha pagou bem; e desfazen<strong>do</strong>-<br />

se <strong>da</strong>s merca<strong>do</strong>rias que na nau trazia, ajuntou cinquenta mil escu<strong>do</strong>s, com que<br />

toman<strong>do</strong> casa grandiosa em Veneza, com trato e cria<strong>do</strong>s lustrosos, se mostrou<br />

tão liberal no trato e luzi<strong>do</strong> na casa que, como era fi<strong>da</strong>lgo, em pouco tempo era<br />

bem estima<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s e visita<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sena<strong>do</strong>res, movi<strong>do</strong>s não menos de seu<br />

juízo que <strong>da</strong> ostentação com que se tratava. Lá disse Euripides 482 que os ricos<br />

e poderosos sempre eram bem vistos de to<strong>do</strong>s. O mesmo parecer seguiu<br />

Cícero 483 , quan<strong>do</strong> disse que no mun<strong>do</strong> valia mais a autori<strong>da</strong>de de quem mais<br />

riquezas possuía. Não digo isto porque Raimun<strong>do</strong> por sua pessoa só não<br />

merecesse muito, mas porque depois que se manifestou tão generoso no trato,<br />

mostrou que ain<strong>da</strong> merecia mais, sen<strong>do</strong> de muitos <strong>do</strong>s principais assisti<strong>do</strong>, de<br />

to<strong>do</strong>s respeita<strong>do</strong> e geralmente bem quisto. Tomou particular amizade com<br />

Vespasiano desde que na sua nau entrou a prender a Reginal<strong>do</strong> e o visitou em<br />

casa <strong>do</strong> auditor enquanto esteve em Veneza, oferecen<strong>do</strong>-lhe liberalmente<br />

acudir a quanto necessário lhe fosse, como em algumas ocasiões fez. Com<br />

este conhecimento visitava a Vespasiano e algumas vezes a Flora, em<br />

companhia de Lívia, a quem enviava regalos, dizen<strong>do</strong> que como a forasteira<br />

nas ausências de seu amante Reginal<strong>do</strong> tomava essa confiança, suposto que<br />

bem sabia lhe sobrava tu<strong>do</strong>. O que Flora cortesmente lhe agradecia.<br />

Eurip., in Suppl.<br />

Cicer., Ad Lentul.

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