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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 973<br />

como disse Sófocles , aos filhos convém para com seus pais usarem de<br />

palavras muito ajusta<strong>da</strong>s, e essas poucas.<br />

Aprovou Raimun<strong>do</strong> o parecer de Bernardino e eu o julguei por acerta<strong>do</strong><br />

e proveitoso, e me ofereci a trazer essa noite o <strong>do</strong>utor Justiniano a casa,<br />

porque tinha com ele particular amizade. Era ele homem já de meia i<strong>da</strong>de e<br />

natural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Ferrara, de nobre família, por suas letras e muita erudição<br />

respeita<strong>do</strong> e a to<strong>do</strong>s aceito. Agradeceu-me muito Raimun<strong>do</strong> a diligência e lhe<br />

prometi de nessa noite o trazer à sua presença, por que sua vin<strong>da</strong> de dia não<br />

desse motivos a qualquer suspeita. Com isto me despedi de casa, deixan<strong>do</strong><br />

ordem para que se preparasse o jantar qual à grandeza de tais hóspedes<br />

convinha. Saí de casa melancólico, que a companhia que me assistia era a<br />

mais profun<strong>da</strong> tristeza, porque não podia evitar a causa dela. E sen<strong>do</strong> que diz<br />

Aristóteles 999 que ninguém sustenta igual desvelo nos cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s próprios e nos<br />

alheios, porque os próprios como o primeiro móvel <strong>da</strong>s potências levam após si<br />

to<strong>do</strong>s os outros como violenta<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong> eu, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so <strong>do</strong>s próprios, não me<br />

divertia <strong>do</strong>s alheios.<br />

Saí ao campo, ribeiras <strong>do</strong> cau<strong>da</strong>loso rio, para respirar <strong>da</strong> opressão desta<br />

pena com a sole<strong>da</strong>de; porém que importa a sole<strong>da</strong>de exterior quan<strong>do</strong> tantas<br />

mágoas no interior assistem? Não há na vi<strong>da</strong>, diz Santo Agostinho 1000 , maior<br />

sole<strong>da</strong>de que a falta <strong>do</strong>s amigos, pois viver sem eles é viver como no desterro,<br />

<strong>do</strong>s quais disse Aristóteles 1001 que ninguém escolhera o viver sem eles por<br />

maiores riquezas que lograsse. Bem me lembra que diz Euripides 1002 que era<br />

desejo natural nos amigos saberem os pesares de seus amigos para poderem<br />

aliviar o penoso deles; porém com ter muitos em Bolonha, não eram estes de<br />

quali<strong>da</strong>de que me franqueassem licença para <strong>da</strong>r notícia deles, porque de<br />

meus pensamentos até este dia só eu era secretário confidente, só em meu<br />

peito cabiam, porque de ninguém os confiava. E <strong>do</strong>s intentos de Raimun<strong>do</strong> era<br />

eu seu fiel carcereiro, pois só de mim os fiava.<br />

Soph., apud Stob.<br />

Arist., in Econ.<br />

'Aug., Deamic. cap. 5.<br />

' Arist., Ethic. 8.<br />

1 Eurip., in Helen.

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