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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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692 Padre Mateus Ribeiro<br />

desterrarem-se a remotas partes, para poderem viver seguros de seus terrores,<br />

parecen<strong>do</strong>-lhes que excediam aos <strong>do</strong> egípcio rei e a seu maior encarecimento.<br />

Levantou-se minha irmã sobressalta<strong>da</strong> <strong>do</strong>s golpes e vozes que o foragi<strong>do</strong><br />

capitão com seus sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong>vam, e meus pais corta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> temor, não<br />

acertan<strong>do</strong> o que fizessem, desejan<strong>do</strong> valer a quem de nossa casa se valia e<br />

temen<strong>do</strong> não poderem impedir a execução <strong>do</strong> <strong>da</strong>no em verdugo tão inexorável<br />

<strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s; desceu minha irmã animosa a abrir a porta a Cursieto Sambuco; a<br />

qual, cobran<strong>do</strong> ânimo <strong>do</strong>s sustos <strong>do</strong> próprio temor, falou desta sorte:<br />

- Confia<strong>da</strong>, valeroso capitão, na generosi<strong>da</strong>de de teu ânimo e cortesia,<br />

pois nunca encontrou a valentia nos desempenhos de cortês, desci a abrir-te a<br />

porta, esperan<strong>do</strong> que tenha esta casa em ti amparo para defendê-la e não<br />

inimigo para infestá-la. Não são as <strong>do</strong>nzelas objectos <strong>da</strong>s vinganças senão <strong>do</strong><br />

favor, dignas de compaixão enterneci<strong>da</strong> e não de hostili<strong>da</strong>des rigorosas, pois<br />

sen<strong>do</strong> incapazes para a defensa, nunca as sujeita a ira <strong>do</strong>s agravos. Confio eu<br />

de teu juízo e cortesia que não quebrarás a imuni<strong>da</strong>de que a meu esta<strong>do</strong> se<br />

deve, pois nem eu nem cousas minhas jamais te ofendemos. Aqui vivo com<br />

meus pais e irmão satisfeitos com os limites de nossa sorte; e não é justo que,<br />

quan<strong>do</strong> devemos tão poucos favores à fortuna, faças com ela liga em nosso<br />

<strong>da</strong>no: pois não é crédito <strong>do</strong> valor conspirar contra quem pouco pode. Se<br />

buscas quem te haja ofendi<strong>do</strong>, eu não conheço quem pudera agravar-te, pois<br />

esta casa é fraco castelo para poder defender-se de tuas armas, não ten<strong>do</strong><br />

mais balas que minhas lágrimas, nem maior resistência que teu próprio valor<br />

para obrigar-te. Esta, generoso Cursieto, é a muralha que assaltar intentas;<br />

considera se é poderosa defensa para tua ira a de minhas lágrimas para<br />

enternecer-te e de teu próprio valor para aplacar-te. Se te julgas agrava<strong>do</strong>,<br />

desapaixona o furor em atenderes não ser justo que sirva esta pobre casa de<br />

teatro a tua vingança e não intentes fazê-la a to<strong>do</strong>s odiosa com executares<br />

nela teu rigor: concede-lhe os privilégios de venturosa em mostrar-se rendi<strong>da</strong>,<br />

se outras tiveram o castigo de se mostrarem resistentes a teu valor. Aberta<br />

tens a porta, invencível Cursieto, que eu confio <strong>da</strong> grandeza de teu ânimo, que<br />

se para to<strong>do</strong>s foste sempre temi<strong>do</strong>, hoje tua cortesia <strong>da</strong>rá motivo ao benigno<br />

para seres com aplausos louva<strong>do</strong>.<br />

Calaram de Estela as vozes, mas não os olhos, continuan<strong>do</strong> em chorar o<br />

que as palavras terminavam no dizer: eloquência mu<strong>da</strong> que obriga muito,

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