17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

490 Padre Mateus Ribeiro<br />

pie<strong>do</strong>so e não de severo. Porque sempre a pie<strong>da</strong>de foi louva<strong>da</strong> e a severi<strong>da</strong>de<br />

nunca foi aplaudi<strong>da</strong>.<br />

Seleuco, rei <strong>do</strong>s locrenses, fez uma lei em que man<strong>da</strong>va que ao que<br />

fosse compreendi<strong>do</strong> em adultério lhe fossem tira<strong>do</strong>s ambos os olhos; e sen<strong>do</strong> o<br />

príncipe, seu filho, em adultério acha<strong>do</strong>, por não privar ao filho de ambos os<br />

olhos, lhe man<strong>do</strong>u tirar um e a si mesmo tirou o outro: acção que foi mais<br />

admira<strong>da</strong> por severa <strong>do</strong> que louva<strong>da</strong> por acerta<strong>da</strong>. Não queirais, senhor, privar-<br />

vos de uma filha, tanto para estimar-se pela fermosura, por vingardes severo<br />

uma desobediência que no amor tem desculpa e em vossa pie<strong>da</strong>de pode ter o<br />

remédio. Duas vezes fica sen<strong>do</strong> pai quem a vi<strong>da</strong> a seus filhos conserva: em lha<br />

<strong>da</strong>rdes a primeira vez fostes ministro (a) <strong>da</strong> natureza, mas em lha conservardes<br />

sereis administra<strong>do</strong>r <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de. Não vos precipiteis em os despenhos <strong>da</strong> ira<br />

que ao diante trazem consigo sem fruto os arrependimentos: como se viu<br />

quan<strong>do</strong> Herodes, o cruel, man<strong>do</strong>u matar a fermosa Mariene, sua esposa, de<br />

que depois se arrependeu tanto que chegava a delirar de sentimento. Bem se<br />

viu em a arroja<strong>da</strong> morte de Clito nas lágrimas que de arrependi<strong>do</strong> chorou o<br />

grande Alexandre, queren<strong>do</strong> deixar-se morrer de pesaroso, se os capitães de<br />

seu exército compassivos lho não impediram. Lá disse o Quintiliano que o ter<br />

compaixão <strong>do</strong>s filhos era a cabal obrigação <strong>do</strong> amor <strong>do</strong>s pais. Pois se o amor<br />

que lhes tem não se mostrou compadeci<strong>do</strong>, em que se há-de experimentar o<br />

afecto natural de amá-los? E se os erros <strong>do</strong>s filhos não acharem remédio nas<br />

entranhas enterneci<strong>da</strong>s de um pai, como acharão nem escusa nem remédio<br />

em peitos estranhos? Se o pelicano, por <strong>da</strong>r remédio aos filhos, faz <strong>do</strong> pico<br />

lança com que se rasga o peito, fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s líqui<strong>do</strong>s rubios de seu sangue<br />

poderosa epítema para <strong>da</strong>r-lhes vi<strong>da</strong>, fazen<strong>do</strong> de sua própria <strong>do</strong>r remédio<br />

contra os assaltos <strong>da</strong> morte, com quanta mais razão devem os pais socorrer no<br />

perigo aos filhos, que tem tanta parte nos vitais alentos de seu coração?<br />

Aqui chegava Vespasiano com sua prudente persuasão, de que o conde<br />

não estava pouco enterneci<strong>do</strong>, enfim de pai em quem a pie<strong>da</strong>de com pouca<br />

bataria abre brecha à compaixão, quan<strong>do</strong> entraram uns cria<strong>do</strong>s dizen<strong>do</strong> que a<br />

nau de Raimun<strong>do</strong> vinha entran<strong>do</strong> no porto: anúncio com que to<strong>do</strong>s se<br />

perturbaram; e ven<strong>do</strong> Vespasiano ao conde e a Carlos, seu filho, com as cores<br />

Instrumento, apetrecho.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!