17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> Mateus Ribeiro 55<br />

"É templo de grande romagem e veneração, em que se vem pendura<strong>do</strong>s muitos<br />

grilhões e cadeias, algemas e colares de ferro de quem muitos cativos e presos<br />

milagrosamente se viram livres por intercessão <strong>do</strong> glorioso S. Leonar<strong>do</strong>' 9Z<br />

Por fim, registe-se ain<strong>da</strong> a entusiástica descrição <strong>da</strong> Santa Casa de<br />

Nossa Senhora <strong>do</strong> Loreto:<br />

"Ali se suspenderam to<strong>do</strong>s os discursos à vista <strong>da</strong>s maravilhas, ven<strong>do</strong> no cruzeiro <strong>do</strong><br />

grande templo, que se edificou engasta<strong>do</strong> este preciosíssimo diamante, a casa própria<br />

em que tantos tempos a Virgem Santíssima Mãe de Deus morou com o menino Jesus<br />

e o Santo José em Nazaré de Galileia. Ali viram insígnias de milagres sem número que<br />

a Senhora com sua intercessão tem obra<strong>do</strong> em seus devotos, de que an<strong>da</strong>m<br />

impressos dilata<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>utos livros, aonde remeto aos curiosos. A frequência <strong>do</strong>s<br />

romeiros que ca<strong>da</strong> hora entravam, por excessiva, não é capaz de escrever-se. Porque<br />

tu<strong>do</strong> neste inefável santuário é objecto mais <strong>da</strong>s admirações que <strong>da</strong> pena." 94<br />

Assinala<strong>da</strong> pela sua complexi<strong>da</strong>de por alguns <strong>do</strong>s estudiosos que sobre<br />

esta obra se debruçaram, para tal concorre em muito o tratamento <strong>do</strong> tempo<br />

narrativo. Por ente uma progressão diegética que por vezes se revela<br />

intrinca<strong>da</strong> pela inserção de múltiplas narrativas e pelos comentários <strong>do</strong><br />

narra<strong>do</strong>r e reflexões <strong>da</strong>s personagens, são comuns as anacronias. Para aclarar<br />

a situação de sofrimento que <strong>do</strong>mina uma personagem, o narra<strong>do</strong>r<br />

autodiegético recorre a frequentes analepses (coincidentes com algumas <strong>da</strong>s<br />

narrativas encaixa<strong>da</strong>s) ou, em alternativa, vale-se de sumários que<br />

compendiam largos perío<strong>do</strong>s de tempo (por exemplo, para resumir a activi<strong>da</strong>de<br />

militar de uma personagem, referin<strong>do</strong>-se a sua coragem e valor militar e as<br />

remunerações adquiri<strong>da</strong>s). Convém ain<strong>da</strong> notar que estas elipses, quan<strong>do</strong> a<br />

compreensão <strong>da</strong> narrativa o exige, são muitas vezes completa<strong>da</strong>s pelo recurso<br />

a cartas que referem os acontecimentos ignora<strong>do</strong>s pelas personagens<br />

ausentes.<br />

Se no <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong> espaço já acentuámos que a descrição<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s paisagens rústicas se baseia na apresentação de lugares-<br />

comuns colhi<strong>do</strong>s em diversos autores, no que concerne à notação temporal<br />

<strong>da</strong>s diversas narrativas observa-se também um sistemático uso de<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte III, pp.518-9.<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte III, pp.555-6.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!