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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1021<br />

meu fiel amigo. A ver<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que passou só eu e o senhor Carlos a sabemos,<br />

mas esta para conhecer-se, diz Aristóteles 1092 , é necessário manifestar o<br />

engano <strong>da</strong> falsi<strong>da</strong>de. Porém quem em noite escura, solitário o lugar,<br />

intempestivas as horas, no maior silêncio pode arguir a falsi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que o<br />

cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> defunto testemunha? É Petrónio Bentivolhe, seu pai, muito rico e<br />

aparenta<strong>do</strong> com o melhor de Bolonha, com que nele ficamos ten<strong>do</strong> um inimigo<br />

mui poderoso e em seus parentes muitos contrários e to<strong>do</strong>s mui vali<strong>do</strong>s;<br />

desgraça grande, como disse Plutarco 1093 , quan<strong>do</strong> os melhores de uma ci<strong>da</strong>de<br />

se tem por inimigos. Litigar com os desvali<strong>do</strong>s, disse Ovídio 1094 , não dá grande<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, porque a queixa que vai <strong>da</strong> pobreza acompanha<strong>da</strong> talvez é pouco<br />

ouvi<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> o pobre, como alude Juvenal 1095 , pouco aceito e ain<strong>da</strong> mal<br />

ouvi<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> o ofendi<strong>do</strong> fora pobre, que ou molesta<strong>do</strong> <strong>do</strong> vagaroso <strong>do</strong> litígio<br />

desistisse de prossegui-lo, ou viesse a <strong>da</strong>r perdão movi<strong>do</strong> <strong>do</strong> interesse, como<br />

disse Platão 1096 , que não se podia chamar homem rico o que muito possuía,<br />

senão o que quan<strong>do</strong> lhe importava sabia tu<strong>do</strong> despender. Porém, senhores,<br />

neste infortúnio presente não se pode achar esta esperança, pois os pais <strong>do</strong><br />

morto Octávio, sobre serem muito ricos, são muito vali<strong>do</strong>s e muito aparenta<strong>do</strong>s.<br />

Pois de partes tão aparenta<strong>da</strong>s, com o criminoso <strong>da</strong>s devassas que se<br />

tiram, tão eclipsa<strong>da</strong> <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de a luz e tão aparente <strong>do</strong> engano o fingimento,<br />

que se pode esperar em Bolonha? É a queixa de um poderoso sempre ouvi<strong>da</strong>,<br />

o clamor aceito e o requerimento respeita<strong>do</strong>, e mais na morte de um filho único,<br />

morga<strong>do</strong> e de seus pais com extremos ama<strong>do</strong>. Bolonha para mim hoje deu fim,<br />

que não é pequena ventura o poder isentar-me de ser preso. Irei para Cesena,<br />

minha pátria, aonde sou mais vali<strong>do</strong> e meu cunha<strong>do</strong> mais poderoso <strong>do</strong> que o<br />

pai de Octávio o é em Bolonha. Agora importa, senhor Frederico Manfre<strong>do</strong>,<br />

tratar-se <strong>da</strong> segurança <strong>do</strong> senhor Carlos e de vossa mercê. Dele, digo, porque<br />

pela justiça está preso, e de vossa mercê porque, como fiel carcereiro e a<br />

quem se entregou em guar<strong>da</strong>, há-de <strong>da</strong>r conta dele à justiça, tanto que lhe for<br />

Plut., De ódio & invid.<br />

Ovid., 3. De am.<br />

Juv., Sat. 3.<br />

Plat., De Pol.

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