17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 269<br />

que quem necessita <strong>do</strong> favor não há-de encontrar a vontade de que depende.<br />

Entretanto deu ordem Frederico a despachar seus sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s, assinan<strong>do</strong>-lhes os<br />

sítios que haviam de ocupar, a uns nas eminências para desquartinarem as<br />

estra<strong>da</strong>s, a outros em embosca<strong>da</strong>s para vigiarem os caminhantes, outros em<br />

esquadra para correrem as devesas, e <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhes as ordens que haviam de<br />

seguir e as horas a que haviam de tornar, como se fora milícia o que era<br />

escân<strong>da</strong>lo <strong>do</strong>s montes e assombro <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, a vi<strong>da</strong> mais arrisca<strong>da</strong> e<br />

inquieta, fican<strong>do</strong> só <strong>do</strong>s ban<strong>do</strong>leiros e, assentan<strong>do</strong>-se connosco, disse assim:<br />

- Para que saibais, senhores, a causa de me verdes no esta<strong>do</strong> presente,<br />

antes de referir-vos os sucessos de minha vi<strong>da</strong>, estimarei me digais quem sois,<br />

para onde dirigis vosso caminho, que ocasião tivestes para deixares a pátria e<br />

vires fugin<strong>do</strong> aos rigores <strong>do</strong> vice-rei, meu inimigo.<br />

Ao que Alexandre lhe fez inteira relação de nossa história, desde aquela<br />

infelice noite <strong>do</strong> roubo de minha irmã e desafio até à hora presente, de que ele<br />

se mostrou compadeci<strong>do</strong>, prometen<strong>do</strong> de novo seu favor e companhia até nos<br />

deixar na primeira povoação fora <strong>da</strong>s raias <strong>do</strong> reino que poucas léguas distava.<br />

E <strong>da</strong>n<strong>do</strong> princípio aos perío<strong>do</strong>s de sua vi<strong>da</strong>, disse:<br />

Cap. XII.<br />

Em Frederico relata seus sucessos<br />

- Nasci nos arrabaldes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Nápoles, em um lugar pequeno que<br />

fica na estra<strong>da</strong> de Puzol; foram meus pais lavra<strong>do</strong>res e pobres, que to<strong>do</strong>s os<br />

infortúnios seguem a pobreza. Tiveram-me a mim e a uma filha chama<strong>da</strong><br />

Claudiana, com quem se mostrou a natureza tão liberal quanto a fortuna<br />

inimiga: poucas vezes fazem pazes a ventura e a beleza; sempre prodígios são<br />

objectos <strong>da</strong> admiração para serem ludíbrios <strong>da</strong> fortuna. Era tal a beleza de<br />

Claudiana que nem o escondi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s montes bastava a escondê-la, nem o<br />

rústico e pastoril traje era poderoso para deslustrá-la: tratavam meus pais de<br />

encobri-la aos olhos <strong>do</strong>s naturais e a fama a publicava ain<strong>da</strong> nos estrangeiros.<br />

Era neste tempo ela de <strong>do</strong>ze anos e eu de quinze, que não me incitan<strong>do</strong> a<br />

inclinação a seguir a vi<strong>da</strong> e exercício de meus pais, tratei em Nápoles de seguir

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!