17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 933<br />

ver<strong>da</strong>de e como resolutamente se oferecia para ser seu esposo, pedin<strong>do</strong>-lhe<br />

que este seu intento a seus pais dissesse. Ao que Frederico respondeu assim:<br />

- Bem pudera eu dizer que um infelice na própria defensa vem a<br />

encontrar os <strong>da</strong>nos. Por tua causa, Fenisa, me ausentei <strong>da</strong> corte, deixan<strong>do</strong> o<br />

sossego de minha casa e sujeitan<strong>do</strong>-me a viver no monte, para desviar os<br />

juvenis intentos de Raimun<strong>do</strong> e com as distâncias impedir-lhe o ver-te,<br />

cortan<strong>do</strong>-lhe os passeios de dia e as ron<strong>da</strong>s indecorosas <strong>da</strong> noite, e o poder<br />

<strong>da</strong>r motivos à censura de escrupulosos juízos e línguas atrevi<strong>da</strong>s poderem<br />

desluzir o purifica<strong>do</strong> de meu pun<strong>do</strong>nor e de teu louvável recolhimento. Porém<br />

quan<strong>do</strong> me empenho em evitar um perigo, declinar a opressão e contraminar<br />

um arrojo, me vejo oprimi<strong>do</strong> de outro.<br />

Bem conheço, Fenisa, que a culpa não é tua, senão desgraça minha. Tu<br />

foste a queixosa de seus devaneios, conhecen<strong>do</strong> discretamente que a fama<br />

honrosa com um desaire pode perder-se e com dificul<strong>da</strong>de se restaura, sen<strong>do</strong><br />

uma livian<strong>da</strong>de bastante para desluzir muitos merecimentos. Muitas vitórias<br />

tinha alcança<strong>do</strong> o grande Pompeu e uma só perdi<strong>da</strong> nos campos farsálicos<br />

bastou para eclipsar a generosa fama a quem tantos triunfos enobreceram.<br />

Não é, diz Cícero 934 , acção de bom juízo por lisonjas <strong>da</strong> fermosura que pode<br />

perder-se, aventurar a fama que pode imortalizar-se. Não te culpo em ouvires<br />

seus enganos, pois o encontro foi tão repentino; porém não louvo o ficarem<br />

suas palavras e lisonjas tão impressas em tua memória, porque o que não se<br />

deseja nunca faz na lembrança impressão. Entre to<strong>do</strong>s os frutos só a romã<br />

nasce com coroa, sen<strong>do</strong> a mesma árvore que lhe serve de berço sólio em que<br />

se coroa. Quem, Fenisa, em seu nascimento não nasceu de pais soberanos,<br />

logo perdeu as esperanças de aspirar à coroa pela fermosura. São hoje nos<br />

príncipes as razões de esta<strong>do</strong> a alma que costuma animar a vi<strong>da</strong> de seu<br />

senhorio, a temporal coluna que sustenta o edifício de sua estimação. Ao<br />

governo político <strong>da</strong> república chamou Aristóteles 935 a principal <strong>da</strong>s artes.<br />

Sempre o príncipe que governa leva grande e superior vantagem a seus<br />

súbditos e vassalos, porque lhe hão-de obedecer e eles não reconhecem outro<br />

superior a quem obedeçam, que por isso se chamam soberanos. Assim não<br />

Cicer., 4. Ad Heren.<br />

Arist., Eth. 1. & Poly. c. 1.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!