17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 363<br />

<strong>do</strong> sangue é abona<strong>do</strong> fia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s bons procedimentos: assim disse Euripides<br />

que se envergonha a fi<strong>da</strong>lguia de cometer cousas indecorosas, e S. João<br />

Crisóstomo 360 que a nobreza se peja <strong>da</strong>s acções indecentes ao tronco ilustre<br />

de sua origem; e assim, sen<strong>do</strong> Laura ilustremente nasci<strong>da</strong>, indigno receio seria<br />

temer dela acção que de seu sangue desdiga e <strong>da</strong>r por tantas vias devi<strong>da</strong>s<br />

obrigações a seu esta<strong>do</strong>. Se sentis o deixá-la só, ela virá a acompanhar-vos,<br />

como estiverdes em lugar seguro; pois com os romanos Regínio e Marco<br />

Varrão se desterraram voluntariamente suas esposas, não temen<strong>do</strong> nem os<br />

perigos a que se expunham, nem os discómo<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pobreza a que se<br />

ofereciam, como refere Apiano Alexandrino. Hipsicrácia, rainha de Ponto,<br />

mulher de Mitri<strong>da</strong>tes, poderoso monarca, sen<strong>do</strong> com extremos fermosa e tão<br />

grande senhora, seguiu de sorte a seu mari<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> venci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s romanos e<br />

an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> fugitivo por várias regiões <strong>do</strong> Oriente, por caminhos incultos, serras<br />

fragosas e gentes bárbaras, de tal sorte alivian<strong>do</strong> os disfavores de sua fortuna<br />

que, ven<strong>do</strong> seu esposo como jamais faltava de seu la<strong>do</strong> quem com tantos<br />

extremos o amava, não lhe parecia que an<strong>da</strong>va perdi<strong>do</strong> e fugitivo, mas que<br />

estava em seu próprio reino como de antes seguro.<br />

O coração generoso vê-se nos perigos, prova-se nos assaltos <strong>da</strong><br />

fortuna; não são as bonanças o objecto <strong>da</strong> magnanimi<strong>da</strong>de, salvo em estimá-<br />

las em pouco e moderar as alegrias na prosperi<strong>da</strong>de, como ensina<br />

Aristóteles 361 ; mas o Séneca 362 a descreve consistir em não se acovar<strong>da</strong>r nem<br />

desanimar com as adversi<strong>da</strong>des, saben<strong>do</strong> desprezar os perigos e os<br />

assombros <strong>da</strong> morte, e em não acometer sem prudência as empresas<br />

temerárias. Há-de ser o coração como os areais <strong>do</strong> mar que servem de<br />

trincheiras ao encapela<strong>do</strong> de suas on<strong>da</strong>s, que parecen<strong>do</strong> serras que se<br />

movem, em quebran<strong>do</strong> neles o furor impetuoso, destroça<strong>da</strong>s em neva<strong>da</strong>s<br />

escumas se retiram; pois nem o desalento dá remédio ao mal, nem o desmaio<br />

diminui o perigo.<br />

Eurip., in Alast.<br />

Chrysost., Sup. Matheent.<br />

Arist., De virt. & vit divis.<br />

Sen., Epist. 39.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!