17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

948 Padre Mateus Ribeiro<br />

fogem para que os não veja e de uma moça que cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa se retira para que a<br />

não ame. Vossa excelência não tem motivo que o obrigue a tanto excesso:<br />

nem invejas, nem ofensas, nem ciúmes. Invejas não podem <strong>da</strong>r-se, porque na<br />

presença de Fenisa não há quem tenha ventura de lhe ser aceito, porque é na<br />

própria estimação como a flor anima<strong>da</strong> de Narciso que de si só se agra<strong>da</strong>;<br />

ciúmes não os pode ter, porque Fenisa a ninguém ama, sen<strong>do</strong> sua esquivança<br />

verdugo universal que tu<strong>do</strong> desdenha. Ofensas não as recebe, porque ninguém<br />

está obriga<strong>do</strong> a satisfazer o que nem procura, nem recebe, pois se porfermosa<br />

a ama, na<strong>da</strong> disso lhe deve: se sen<strong>do</strong> feia a amara, poderia dever-lhe o<br />

empregar os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> amor no que pudera causar o aborrecimento; porque<br />

diz Plutarco 957 que mal pode amar-se o que a natureza fez na feal<strong>da</strong>de incapaz<br />

de querer-se. Porém sen<strong>do</strong> Fenisa <strong>da</strong> fermosura o maior assombro, acre<strong>do</strong>ra<br />

podia intitular-se <strong>do</strong> amor e não deve<strong>do</strong>ra.<br />

Se pois o empenho de Fenisa é que to<strong>do</strong>s padeçam quantos a viram e<br />

que ela por nenhum receba o menor cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, para que intenta vossa<br />

excelência que a pena seja to<strong>da</strong> sua e de Fenisa o triunfo? Que ela <strong>do</strong> empório<br />

mais seguro veja naufragá-lo na maior tormenta? Que <strong>do</strong>s montes Alpes de<br />

sua esquivança veja os incêndios <strong>do</strong> Etna em que seu peito se abrasa? Se<br />

Leandro por amante se aventurava a passar a na<strong>do</strong> os golfos empola<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Helesponto e que seus braços rompen<strong>do</strong> a corrente formidável <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s<br />

formassem ponte para ajuntar a Ásia com a Europa, Hero lho merecia, pois<br />

nele i<strong>do</strong>latrava, aman<strong>do</strong>-o com tais finezas que, se lhe sacrificava as memórias<br />

mais amantes na vi<strong>da</strong>, lhe fez companhia com as finezas mais trágicas na<br />

morte. Merecia-lhe que por ela às inconstantes on<strong>da</strong>s aventurasse a vi<strong>da</strong>,<br />

quem de senti<strong>da</strong> e magoa<strong>da</strong> por não viver sem ele nas próprias on<strong>da</strong>s se<br />

despenhou na morte. Porém vossa excelência quer aventurar-se por quem por<br />

ele a na<strong>da</strong> se aventura? Quer que triunfe a vontade de seu juízo? O amor de<br />

seu pun<strong>do</strong>nor? O querer de sua autori<strong>da</strong>de por quem de tais finezas e<br />

extremos na<strong>da</strong> obriga<strong>da</strong> se mostra? Há-de vossa excelência rogar tantas vezes<br />

com a paz a quem por to<strong>da</strong>s as vias lhe publica guerra? Porventura faltam no<br />

mun<strong>do</strong> fermosuras? Ou sequestrou Fenisa só para si os foros <strong>da</strong> beleza? Não<br />

é a fermosura acidente a quem pode eclipsar um desmaio, des<strong>do</strong>urar uma<br />

Plut., De Poet.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!