17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 507<br />

É o ser bem tão inestimável, com o não ser compara<strong>do</strong>, que até os<br />

próprios condena<strong>do</strong>s ao inferno em o excessivo rigor de seus tormentos não<br />

quiseram deixar de haver si<strong>do</strong>. Porque sen<strong>do</strong> o ser de si próprio bom, como<br />

dizem os filósofos com Aristóteles 488 , por ser quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ser a bon<strong>da</strong>de,<br />

como ensina São Dionísio Areopagita 489 , com os condena<strong>do</strong>s haverem perdi<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong> o bem e padecerem to<strong>do</strong> o mal, ain<strong>da</strong> este bem entitativo <strong>do</strong> ser que tem<br />

não desejam havê-lo perdi<strong>do</strong>. Como logo vós, senhor Rogério, estan<strong>do</strong> em<br />

esta<strong>do</strong> de poderdes salvar-vos, vos queixais de haverdes alcança<strong>do</strong> na criação<br />

um tal bem que os próprios condena<strong>do</strong>s não rejeitam, ain<strong>da</strong> padecen<strong>do</strong> o<br />

maior mal? Sentis chegar ao fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ven<strong>do</strong>-vos pobre e desta i<strong>da</strong>de? Por<br />

refúgio havíeis de apetecer a morte e não avaliá-la por moléstia. É a velhice<br />

estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> morte, como lhe chamou o filósofo, e Temístocles 490 disse que<br />

morava a morte com a velhice em uma mesma casa. Achaque sem remédio lhe<br />

chamou Euripides, sen<strong>do</strong>, como diz o Séneca, cousa digna de vituperar-se a<br />

velhice que deseja tornar ao berço, estan<strong>do</strong> tão vizinha ao sepulcro. Vivestes<br />

dilata<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e essa em trabalhos e moléstias? Para que suspirais pelas<br />

penas, quan<strong>do</strong> podeis adquirir as glórias? Que granjeastes na vi<strong>da</strong> com tantas<br />

navegações, engolfan<strong>do</strong>-vos nos mares? Que de dias penosos, de noites<br />

molestas, de riscos presentes, de perigos passa<strong>do</strong>s, de rigores sofri<strong>do</strong>s,<br />

inquieto o sono, atalha<strong>do</strong> o descanso, malogra<strong>da</strong> a alegria, perturba<strong>do</strong> o<br />

sossego, corta<strong>da</strong> a esperança, sem fruto o desejo, fugitiva a bonança, contínua<br />

a tormenta: e no fim de tantos desvelos ain<strong>da</strong> suspirais por passá-los, quan<strong>do</strong><br />

houvéreis de mostrar alegria de vos isentardes de mais sofrê-los? Oh<br />

endureci<strong>da</strong> condição <strong>da</strong> mortal vi<strong>da</strong>, pois no mesmo em que te asseguras, te<br />

dás por ofendi<strong>da</strong>, e <strong>do</strong> que mais havias de estimar te queixas! Vedes-vos cativo<br />

<strong>da</strong>s aflições e rejeitais a liber<strong>da</strong>de; an<strong>da</strong>is forasteiro e aborreceis a pátria;<br />

apeteceis o servir, poden<strong>do</strong> a escravidão escusar; que juízo se não condenará<br />

por erra<strong>do</strong> ou que vontade se livrará <strong>da</strong> censura de cega?<br />

Se fôreis no mun<strong>do</strong> príncipe ou monarca que de to<strong>do</strong>s vos vireis<br />

obedeci<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s grandes respeita<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>, majestoso na opulência,<br />

Arist., Rhetor. 1.<br />

Dionys., ibi.<br />

Themist., apud Stob.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!