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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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450 Padre Mateus Ribeiro<br />

Assim falou Flora, e foi tal o peso <strong>da</strong>s alegrias que recebeu o aflito<br />

coração de Reginal<strong>do</strong> que ajoelhou aos pés de sua compassiva Flora: que<br />

também as venturas não espera<strong>da</strong>s podem carregar com os pesares. Ela para<br />

levantá-lo lhe deu a mão como a esposo, consultan<strong>do</strong> entre si o mo<strong>do</strong> e<br />

ocasião que poderia haver para ausentar-se com mais segurança, e que<br />

enquanto o tempo lhes mostrava a oportuni<strong>da</strong>de de fazê-lo, ela fingiria que<br />

achara as jóias em parte diferente, e ele aceitasse as desculpas que o conde<br />

lhe desse de havê-lo preso e se deixasse ficar em casa até sua fugi<strong>da</strong><br />

conseguirem. Tu<strong>do</strong> se efectuou como ordenou Flora, fazen<strong>do</strong> as ricas jóias<br />

apareci<strong>da</strong>s em parte que abonavam a inocência de Reginal<strong>do</strong>, a quem o conde<br />

pediu perdão <strong>do</strong> que dele havia presumi<strong>do</strong> e Carlos o persuadiu com tantas<br />

desculpas que ele se deu por satisfeito <strong>do</strong> penoso susto que senti<strong>do</strong> tinha e<br />

ficou em seu serviço como de antes estava; não lhe faltan<strong>do</strong> desculpas que <strong>da</strong>r<br />

<strong>da</strong> ausência que havia intenta<strong>do</strong>, com diferentes pensamentos <strong>do</strong> que eles<br />

julgaram no roubo que criam.<br />

Alguns dias eram passa<strong>do</strong>s em que Reginal<strong>do</strong> esperava que houvesse<br />

alguma embarcação para Veneza, que era o refúgio em quem sustentava as<br />

esperanças de se poder conseguir sua fugi<strong>da</strong>, té que lhe deram notícias de<br />

uma nau que estava prepara<strong>da</strong> para se partir brevemente. Solicitou<br />

pessoalmente mais certa informação seu cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, falan<strong>do</strong> com o patrão dela,<br />

que era um nobre genovês, mancebo na i<strong>da</strong>de e rico nos bens <strong>da</strong> fortuna, que<br />

passava a Veneza para <strong>da</strong>í voltar a Alexandria com negócios de importância, e<br />

se chamava Raimun<strong>do</strong>. Este lhe disse que se queria embarcar-se o levaria a<br />

Veneza, mas que havia de ser com brevi<strong>da</strong>de, porque dentro em <strong>do</strong>us dias<br />

determinava partir-se. Com este aviso persuadiu a Flora a ocasião oportuna<br />

que se oferecia, e ela, que como tão amante estava já resoluta em segui-lo,<br />

ajuntan<strong>do</strong> as jóias mais ricas que possuía, se preparou para na seguinte noite<br />

se embarcarem. É o amor, como bem lhe chamou Platão 440 , mestre <strong>da</strong>s<br />

ousadias: nunca ensinou a temer, porque na academia <strong>do</strong> querer jamais se<br />

ouviu lição de recear.<br />

Assim destemi<strong>do</strong> Reginal<strong>do</strong>, esperan<strong>do</strong> a ocasião para ele a mais<br />

apeteci<strong>da</strong> e a mais arrisca<strong>da</strong> que em sua vi<strong>da</strong> teve, esperan<strong>do</strong> que a noite com<br />

Plat., in Tim.

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