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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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486 Padre Mateus Ribeiro<br />

subornos <strong>do</strong> que o discurso respeitos, e por não faltar ao fino de amar, faltou<br />

ao decoroso de vos obedecer.<br />

Sen<strong>do</strong> em Reginal<strong>do</strong> tão rara a gentileza, tão subi<strong>do</strong> o valor, tão<br />

estimáveis os <strong>do</strong>tes naturais, como vós próprio confessais, alguma desculpa<br />

tem a senhora Flora em escolhê-lo, pois já quan<strong>do</strong> a natureza o <strong>do</strong>tou tão<br />

liberal, logo o habilitou para superior ventura, e se lhe negou a grandeza<br />

quan<strong>do</strong> nascia, não lhe negou to<strong>do</strong>s os meios de poder merecê-la. São os<br />

merecimentos esca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ventura por onde se sobe às digni<strong>da</strong>des, ten<strong>do</strong><br />

estes, como diz Quintiliano 472 , tanto mais de aplaudi<strong>do</strong>s quanto foram no subir<br />

mais arrisca<strong>do</strong>s. Negou-lhe o humilde <strong>do</strong> nascimento que luzisse, mas não o<br />

impossibilitou com <strong>da</strong>r-lhe tantas partes para que à maior ventura não<br />

aspirasse. E se lhe tirou as penas ao nascer, deu-lhas o tempo com os méritos<br />

para poder voar. Às aves o ninho lhes comunicou as asas e o tempo com seus<br />

discursos as penas: mas a Reginal<strong>do</strong> negan<strong>do</strong>-lhe tu<strong>do</strong> o berço por humilde,<br />

lhe deu o tempo as asas e as penas. As asas sem penas não aproveitam, as<br />

penas sem asas pouco levantam: mas a esse mancebo faltan<strong>do</strong>-lhe tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong><br />

lhe deu o tempo quan<strong>do</strong> mais lhe importava.<br />

Isto pressuposto, e que não errou a senhora Flora nas partes <strong>do</strong> esposo<br />

que escolheu, pois concedeis tinha tantas, se em outro sujeito mais altivo se<br />

deram, fica só a queixa <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de e em não vos guar<strong>da</strong>r obediência que<br />

como a tal pai devia. Desta segun<strong>da</strong> culpa tem a desculpa em ser amante, que<br />

como amor se pinta ven<strong>da</strong><strong>do</strong>s os olhos, mal pode acertar nos respeitos quem<br />

nem os vê para segui-los, nem os considera para guardá-los. Senão<br />

perguntemos a Orithia, filha de Pandíon, rei de Atenas, porque fugiu a seu pai<br />

com o filho de Astreu, rei de Trácia? A Adriana, porque fugiu de Creta <strong>do</strong> paço<br />

de seu pai, el-rei Minoe, com Teseu, desconheci<strong>do</strong> por sol<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> fortuna em<br />

terra alheia? Perguntemos à Infanta Dona Ximena, irmã d'el-rei Dom Afonso, o<br />

casto, de Castela, porque quis fugir com o conde Dom Sancho Dias de<br />

Sal<strong>da</strong>nha, sen<strong>do</strong> seu vassalo, depois de havê-la goza<strong>do</strong>? E to<strong>da</strong>s responderão<br />

que se cegaram porque bem quiseram. Que como o amor discursa com a<br />

vontade, como disse Plutarco 473 , o mais que se segue é o arrojo e o menos que<br />

Quint., Lib. 6.<br />

Plut., De amicit. & adul.

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