17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 559<br />

O casamento de Amatilde já hoje não me convém. Porque quem faltou à<br />

promessa que de esposa me havia <strong>da</strong><strong>do</strong>, já não tinha lugar quan<strong>do</strong> fora<br />

<strong>do</strong>nzela, quanto mais sen<strong>do</strong> hoje viúva. Eu, enquanto amante, a pretendi por<br />

esposa, sem saber os futuros de sua grandeza, porque delírios <strong>do</strong> amor cortam<br />

mil vezes pelos <strong>do</strong>cumentos <strong>da</strong> razão; hoje, que considero as cousas com<br />

olhos livres, conheço que era precipício de meu querer o extremo a que me<br />

cheguei a humilhar. Saí de Ferrara, minha pátria, por me parecer que nas<br />

mu<strong>da</strong>nças de Amatilde e desaforos de Alberto ficava eu nos brios abati<strong>do</strong>.<br />

Desta pena me livrou o duque, nosso príncipe; e assim nem hoje sinto pena<br />

que me moleste, nem sentimento que me atormente. E pois os senhores<br />

Felisberto e Dionísio hão-de ficar neste santuário de novena, e as sau<strong>da</strong>des de<br />

minha mãe e as que terá a <strong>do</strong> senhor Constantino não admitem mais demora,<br />

eu lhe farei companhia até Ravena, e <strong>da</strong>í me partirei a Ferrara; que pois por<br />

ocasião de Amatilde tenho causa<strong>do</strong> a meus pais tantos sentimentos, justo<br />

parece lhos alivie com minha assistência.<br />

A to<strong>do</strong>s pareceu acerta<strong>do</strong> o intento de Felizar<strong>do</strong>. E despedin<strong>do</strong>-se <strong>do</strong><br />

Ermitão e de Dionísio com mostras de grandes sau<strong>da</strong>des de sua companhia,<br />

Felizar<strong>do</strong> e Constantino se partiram para suas pátrias; que, como disse<br />

Plutarco 536 , não se satisfaz a obrigação de seus filhos com que as houvessem<br />

ama<strong>do</strong>, mas com amá-las sempre de presente: por serem o primeiro berço de<br />

nosso nascimento, as que nos deram a primeira aura vital de nossa respiração,<br />

as amas de nossa infância e as primeiras mestras de nossa educação.<br />

Sau<strong>do</strong>sos ficaram os nossos <strong>do</strong>us romeiros de sua companhia,<br />

discursan<strong>do</strong> sobre os perío<strong>do</strong>s vários de sua história. Onde agora os<br />

deixaremos, começan<strong>do</strong> sua novena e residentes no magnífico hospital (a)<br />

<strong>da</strong>quela Santa Casa. E se na jorna<strong>da</strong> que para a sua ermi<strong>da</strong> fizerem outros<br />

novos sucessos derem motivos à história ain<strong>da</strong> comporemos a Quarta Parte.<br />

1 Plut., Ansenisit gerend. Resp.<br />

LAUS DEO.<br />

Casa onde se curam <strong>do</strong>entes pobres; onde se agasalham hóspedes e vian<strong>da</strong>ntes pobres.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!