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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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O <strong>caso</strong> Mateus Ribeiro 73<br />

ancião, tomou o hábito num mosteiro de monges e nele viveu em áspera<br />

penitência.<br />

Mais uma vez, no fim destas narrativas, o narra<strong>do</strong>r (Felisberto) aponta a<br />

lição moral que estas narrativas fornecem para a concepção de vi<strong>da</strong> que se<br />

pretende inculcar: o desengano <strong>da</strong>s vai<strong>da</strong>des <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e a consciência <strong>da</strong><br />

inconstância <strong>da</strong> fortuna. Tal como o ban<strong>do</strong>leiro Frederico aban<strong>do</strong>nou a sua<br />

indecorosa vi<strong>da</strong>, também o leitor pode retirar desta obra os ensinamentos<br />

necessários para efectuar venturosos acertos nos seus procedimentos: "Com a<br />

eficácia destes exemplos de sorte se demoveu o coração de Frederico (...) que<br />

ele enfim, como bem entendi<strong>do</strong>, de to<strong>do</strong> caiu na conta para fazer contas com<br />

sua alma, e mediante a graça divina que com sua eficácia obra suave e<br />

poderosamente, se mu<strong>do</strong>u de maneira que a to<strong>do</strong>s nos deixou alegres e<br />

invejosos de o imitar."^ 38<br />

O carácter edificante desta novela de Mateus Ribeiro resulta, além <strong>da</strong><br />

insistente utilização de exempla, <strong>do</strong>s sucessivos comentários teci<strong>do</strong>s pelo<br />

narra<strong>do</strong>r <strong>da</strong> diegese de primeiro nível e pelos <strong>do</strong>is protagonistas, o Peregrino e<br />

o Ermitão, no final <strong>da</strong>s numerosas histórias que compõem esta obra. Com<br />

efeito, as duas personagens principais, enquanto receptores <strong>da</strong>s histórias<br />

<strong>da</strong>queles com quem se cruzam, tecem dilata<strong>do</strong>s comentários sobre o<br />

comportamento <strong>do</strong>s intervenientes de ca<strong>da</strong> narrativa.<br />

Nestas novelas que visam o entretenimento, centra<strong>da</strong>s na sua maioria no<br />

sentimento amoroso, o narra<strong>do</strong>r, ou as próprias personagens, apuram-se em<br />

eruditas considerações, ilustra<strong>da</strong>s por numerosas citações, que alertam o leitor<br />

para os perigos resultantes <strong>da</strong> erra<strong>da</strong> conduta de personagens nobres, sejam<br />

masculinas ou femininas. Neste senti<strong>do</strong> salientam-se, entre outras, a história<br />

<strong>do</strong> conde Roberto que raptou a discreta e modesta Claudiana, irmã de<br />

Frederico, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem a contínuos episódios de violência e à irreflecti<strong>da</strong><br />

busca de vingança, e a história de Juliano, mancebo que man<strong>do</strong>u um grupo de<br />

mouros, em troca <strong>da</strong> sua liber<strong>da</strong>de, raptar Lucin<strong>da</strong>, irmã de Felisberto, por não<br />

ver os seus desvelos amorosos aceites. Ain<strong>da</strong> que pertencentes à nobreza,<br />

grupo habitualmente caracteriza<strong>do</strong> por traços positivos, Roberto e Juliano não<br />

138 Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte II, p.299.

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