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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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542 Padre Mateus Ribeiro<br />

ventura de livre é meio eficaz o experimentar os discómo<strong>do</strong>s de preso.<br />

Discómo<strong>do</strong>s, disse, sem serem grandes, porque to<strong>do</strong> o penoso <strong>da</strong> prisão<br />

consiste em viver com a porta fecha<strong>da</strong> ao arbítrio alheio. E quantos tem as<br />

portas franquea<strong>da</strong>s, sem poderem usar <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de que possuem? Quantos<br />

enfermos e paralíticos estão presos <strong>da</strong> enfermi<strong>da</strong>de para se não moverem e,<br />

ten<strong>do</strong> desimpedi<strong>da</strong>s as saí<strong>da</strong>s, sofrem os grilhões e algemas que lhes deixou a<br />

<strong>do</strong>ença aos pés, e para mais se não levantarem, nem de um leito saírem? O<br />

preso, enquanto tal, está seguro <strong>do</strong> furor de seus inimigos para dele cá fora<br />

não tomarem vingança. Porque a justiça que os prende, juntamente os<br />

assegura. E porventura que a viver livre <strong>da</strong> prisão, seria objecto <strong>da</strong> mais<br />

cruenta satisfação de seus agravos, e com as grades evita o que talvez com a<br />

liber<strong>da</strong>de desviar não pudera. Quantos perderam as vi<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> soltos, que<br />

as puderam conservar estan<strong>do</strong> presos? E vem a ser muitas vezes o favor o<br />

que parece castigo.<br />

Além disto vejo, senhor Justiniano, que no empenho que seguis nem a<br />

vosso pai remediais. Não advertis que os príncipes grandes são como o fogo<br />

que não consente tocar-se sem que abrase? Que a Fénix se avizinhe aos<br />

o<strong>do</strong>ríferos incêndios <strong>do</strong>s aromas de Arábia, tem desculpas no que parece<br />

delírio; pois <strong>da</strong> semente singular de suas cinzas, de novo de vi<strong>da</strong> se reveste, e<br />

com afectos de imortal não repara em ser holocausto de sua própria vi<strong>da</strong> e<br />

vítima de seu ser, tributária aos renovos de suas asas; mas que a simples<br />

borboleta com asas ténues, que nem cabe<strong>da</strong>l tem para fazerem sombra,<br />

intente ser Fénix <strong>da</strong> mais pequena luz e conversar de tão perto os ardentes<br />

fulgores, sem ter esperanças de renascer volante aos logros <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, quem a<br />

livrará de temerária? Quereis, senhor Justiniano, obrigar com hostili<strong>da</strong>des ao<br />

duque de Urbino, sen<strong>do</strong> príncipe potenta<strong>do</strong>, a que vosso pai solte, sen<strong>do</strong><br />

vossas forças tão desiguais a tal príncipe? E não considerais que pode vosso<br />

desejo a vós ser arrisca<strong>do</strong> e a vosso pai nocivo? Não advertis que quan<strong>do</strong> de<br />

vós não consiga a vingança, a tomará <strong>do</strong> preso, com apertar-lhe a prisão<br />

rigorosamente, e que em lugar de lhe solicitardes o remédio, podeis ocasionar-<br />

Ihe o maior <strong>da</strong>no?<br />

Hircano, rei de Jerusalém, alcançou título de pie<strong>do</strong>so, porque levan<strong>do</strong>-<br />

Ihe Ptolomeu cativa a sua mãe e irmãos, e in<strong>do</strong> Hircano com poderoso exército<br />

em seu seguimento o alcançou junto à ci<strong>da</strong>de de Jericó, na qual recolhen<strong>do</strong>-se

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