17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 939<br />

si<strong>do</strong> a ocasião de agora derramá-las. O dilata<strong>do</strong> <strong>da</strong> noite, que ao jornaleiro<br />

molesta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> dia parece que voa, a Raimun<strong>do</strong> parecia eterna,<br />

porque em seu coração tu<strong>do</strong> era noite. Bem manifestava Raimun<strong>do</strong> o muito<br />

que a Fenisa amava no muito que por ela padecia.<br />

Rompeu enfim a estrela de Vénus, brilhante embaixa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> sol, o<br />

primeiro rasgo ao escuro manto <strong>da</strong> noite, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> indícios que não tar<strong>da</strong>ria a<br />

deseja<strong>da</strong> aurora que de to<strong>do</strong> a despojasse <strong>do</strong> luto com seus rosa<strong>do</strong>s<br />

resplan<strong>do</strong>res. Com este primeiro anúncio se levantou Raimun<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> entre as<br />

suspensões mais indecisas <strong>do</strong> dia, pois com pouco se contenta um ansia<strong>do</strong>, e<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> aos cria<strong>do</strong>s selar o cavalo e reca<strong>do</strong> a seu secretário e vali<strong>do</strong><br />

Bernardino Marascoto, que o esperava já monta<strong>do</strong> a cavalo, para partirem ao<br />

campo a negócio que importava acompanhá-lo, apenas ouviu Bernardino o<br />

reca<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> vestin<strong>do</strong>-se com to<strong>da</strong> a brevi<strong>da</strong>de e montan<strong>do</strong> a cavalo veio a<br />

assistir-lhe. Era Bernardino Marascoto mancebo discreto, versa<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s<br />

enquanto foi filho segun<strong>do</strong>; porém falecen<strong>do</strong> o que era o morga<strong>do</strong>, veio ele a<br />

suceder com copiosa ren<strong>da</strong>, assistin<strong>do</strong> em Módena em companhia de sua mãe<br />

viúva, que pai já não o tinha. Aqui o escolheu Raimun<strong>do</strong> por seu secretário e<br />

seu amigo, e se entre os príncipes e vassalos se pode chamar amizade o<br />

valimento, era Bernardino o único priva<strong>do</strong> e amigo de Raimun<strong>do</strong>, o secretário<br />

de seu peito, o consultor de seus segre<strong>do</strong>s e a quem tinha por companheiro<br />

nas jorna<strong>da</strong>s que emprendia, por achar nele juízo discreto, valor sem<br />

temeri<strong>da</strong>des e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so desvelo em assistir-lhe.<br />

Sau<strong>do</strong>u a Raimun<strong>do</strong>, admiran<strong>do</strong>-se de tão repentina madruga<strong>da</strong>, pois<br />

ain<strong>da</strong> mal se divisava o crepúsculo indetermina<strong>do</strong> <strong>da</strong> aurora com luzes escuras<br />

e com sombras claras. Raimun<strong>do</strong> lhe disse que mais de espaço saberia a<br />

causa, e esporean<strong>do</strong> os cavalos saíram <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, seguin<strong>do</strong> a corrente <strong>do</strong><br />

cau<strong>da</strong>loso rio que com passos, sem atender ao fim de seu caminho, ia<br />

precipitar-se no Pó, perden<strong>do</strong> nele os cabe<strong>da</strong>is e o nome. Começavam a este<br />

tempo os músicos rouxinóis a queixar-se, cantan<strong>do</strong> venturosa queixa, pois<br />

ten<strong>do</strong> tantos ouvintes, de to<strong>do</strong>s era aplaudi<strong>da</strong> e estima<strong>da</strong>, poden<strong>do</strong> a ofensa<br />

achar desculpas pela suavi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s efeitos; pois ain<strong>da</strong> que a queixa não<br />

conseguisse o castigo, pelo menos granjeou de to<strong>do</strong>s a aceitação. Com o<br />

castigo <strong>do</strong> agravo tivera silêncio a voz, pois puni<strong>da</strong> a culpa não fica lugar à<br />

queixa; e parecera menos agradável um delito castiga<strong>do</strong> <strong>do</strong> que na senti<strong>da</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!