17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

134 Padre Mateus Ribeiro<br />

desvelos, como escreve Salústio 179 . Sentença e parecer foi de Tito Lívio 180 que<br />

as ruínas <strong>do</strong>s príncipes e monarcas dificultosamente tinham meio, porque <strong>do</strong><br />

maior excesso de misérias nem de ordinário admitem remédio, pois apenas se<br />

divisa o ameaço, que os edifícios grandes não costumam ladear antes de<br />

arruinarem, igualmente se manifesta o abalo e o precipício.<br />

Não foi a morte <strong>do</strong> malogra<strong>do</strong> príncipe aceita ao povo, nem bem<br />

recebi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s grandes <strong>do</strong> reino que contra sua vi<strong>da</strong> não conspiraram,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> se soube que o conde Boduel, um <strong>do</strong>s priva<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

rainha, tinha si<strong>do</strong> o autor principal desta conjuração, suspeitan<strong>do</strong> que<br />

porventura não seria sem seu consentimento executa<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> não se<br />

averiguasse ser por seu próprio man<strong>da</strong><strong>do</strong>, ao que eu não posso persuadir-me,<br />

assim por ser a morte de Henrique executa<strong>da</strong> estan<strong>do</strong> ele já reconcilia<strong>do</strong> em<br />

amizade com a rainha sua esposa, como juntamente porque não é de presumir<br />

que uma senhora tão católica como Maria Estuar<strong>da</strong> tivesse tão desumano<br />

intento e quisesse ver morto violentamente a seu esposo, na flor <strong>do</strong>s anos, com<br />

quem voluntariamente casara persuadi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s muitas partes e gentileza que<br />

nele havia, dignas na ver<strong>da</strong>de de melhor ventura. Porém contra os golpes <strong>da</strong><br />

fortuna, que partes podem defender-se, que merecimento basta para<br />

assegurar-se? Lançaram mão <strong>do</strong> príncipe menino de tenra i<strong>da</strong>de tanto que se<br />

soube a lastimosa nova desta tirana morte os senhores e varões <strong>do</strong> reino de<br />

maior esta<strong>do</strong>, quais eram entre outros Jacobo Estuar<strong>do</strong>, seu tio, filho natural <strong>do</strong><br />

último rei, Jacobo Estuar<strong>do</strong>, e meio irmão <strong>da</strong> rainha, e juntamente o duque de<br />

Schiatel e o conde de More, senhores principais de Escócia, sen<strong>do</strong> este conde<br />

de More a quem se encarregou o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> príncipe, e não<br />

consentin<strong>do</strong> mais <strong>da</strong>í em diante que a rainha em seu poder o tivesse, de que<br />

ela se deu por muito ofendi<strong>da</strong>; e para que tivesse sua ruína maior fun<strong>da</strong>mento<br />

sucedeu passar em pouco tempo a terceiro casamento com o mesmo conde<br />

Boduel, que de to<strong>do</strong> estava odia<strong>do</strong> como autor <strong>da</strong> conjuração e morte d'el-rei,<br />

com o que to<strong>do</strong>s se persuadiram que a rainha havia si<strong>do</strong> a consenti<strong>do</strong>ra e<br />

cúmplice nela. E suposto que eu totalmente me não persua<strong>do</strong> a que o fosse,<br />

contu<strong>do</strong> não deixam de ser indícios e conjecturas muito eficazes para<br />

Salust., Pro Cot. ad pop.<br />

Tit. Liv., Lib. 7. Dec. 4.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!