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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 411<br />

não menos cortês que discreto, como na prática manifestou, falan<strong>do</strong> com meu<br />

pai, disse assim:<br />

- Novi<strong>da</strong>de poderá parecer a vossa mercê, senhor Gui<strong>do</strong> de Rangon, e<br />

assim meu pai se chamava, que desde a corte de Módena venha visitar a V. M.<br />

acompanha<strong>do</strong> destes senhores e fi<strong>da</strong>lgos, que por ordem <strong>do</strong> duque, meu tio e<br />

senhor, me fazem companhia; porém quan<strong>do</strong> V. M. conhecer a causa,<br />

porventura receberá nova admiração, pois vimos não menos que a buscar um<br />

tesouro escondi<strong>do</strong> que nesta casa encobriu o tempo e descobriu a ventura. É o<br />

tempo não só medi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s anos, mas também o relógio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como lhe<br />

chamou Tales Milésio, pois a varie<strong>da</strong>de de seu curso vem a descobrir tu<strong>do</strong> o<br />

que rebuçou a necessi<strong>da</strong>de, o que encobriu a astúcia e o que escondeu o<br />

recato: não haven<strong>do</strong> enigma tão escuro que o tempo não manifeste, nem<br />

emblema tão difícil que o tempo não aclare. O marquês Aníbal de Este, meu<br />

tio, que Deus haja, primo <strong>do</strong> duque meu senhor que tantos lauros e triunfos<br />

adquiriu pelas armas nas guerras <strong>do</strong> império contra os luteranos rebela<strong>do</strong>s,<br />

como publica a fama em to<strong>da</strong> a Europa, faleceu em Veneza, vin<strong>do</strong> já com<br />

licença <strong>do</strong> César para descansar algum tempo em seu esta<strong>do</strong>, ver os muros de<br />

sua pátria, de quem tantos anos o trouxe desnaturaliza<strong>do</strong> o militar pun<strong>do</strong>nor e<br />

desejo de servir ao César. Atalhou-lhe a morte os passos, não a fama com<br />

suas proezas adquiri<strong>da</strong>, e fazen<strong>do</strong> testamento, nele declarou como em os anos<br />

juvenis de sua moci<strong>da</strong>de tivera uma filha em Ferrara de uma moça nobre, a<br />

qual por justos respeitos dera a criar ocultamente a um lavra<strong>do</strong>r de Fossa pelo<br />

Sella chama<strong>do</strong> Sílvio, casa<strong>do</strong> com Dionísia, que a título de filha própria a<br />

criara, e se chamava Amatilde a quem ele deixava, por não ter filhos, por<br />

universal herdeira de seu esta<strong>do</strong>, e pedia ao duque que como a parenta a<br />

man<strong>da</strong>sse ir ao paço para assistir em companhia <strong>da</strong> senhora duquesa, até a<br />

casar conforme a seu sangue e digni<strong>da</strong>de, confirman<strong>do</strong>-lhe o marquesa<strong>do</strong> para<br />

quem casasse com ela.<br />

Isto e outras cousas continha o testamento <strong>do</strong> marquês, que sen<strong>do</strong><br />

apresenta<strong>do</strong> a sua alteza, depois de celebrar as honras funerais que a tão<br />

insigne capitão e preza<strong>do</strong> parente eram devi<strong>da</strong>s, me ordenou que com a<br />

companhia destes fi<strong>da</strong>lgos de sua corte viesse buscar a Amatilde, para que<br />

com Sílvio e Dionísia, seus pais na criação e amor, vá assistir em Módena no

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