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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte II 309<br />

alheia? Se a procuráveis para esposa, casamentos nunca foram força<strong>do</strong>s.<br />

Tratáreis de conquistar a vontade e não querer obrigar com violência. Sempre<br />

as violências foram aborreci<strong>da</strong>s e serviram de apagar ain<strong>da</strong> os incêndios <strong>do</strong><br />

maior amor: cousas violenta<strong>da</strong>s despojam a estimação <strong>da</strong> cousa que padece a<br />

violência. Pois não lhe deixa lugar para usar <strong>do</strong>s privilégios <strong>da</strong> vontade em se<br />

mostrar senhora, pois a tratam com desprezo como se fora cativa. Nunca o<br />

gosto fez pazes com a força nem a isenção com o desprezo; querem-se os<br />

favores agradeci<strong>do</strong>s e não força<strong>do</strong>s. Porque entran<strong>do</strong> a violência de permeio,<br />

deixan<strong>do</strong> de ser favores, parecem tributos. Liber<strong>da</strong>de constrangi<strong>da</strong> é espécie<br />

de cativeiro, disse Quintiliano; e assim não é maravilha que perdêsseis a quem<br />

tão mal granjeastes, que em lugar de pertendê-la com respeitos de senhora,<br />

quisestes obrigá-la com indecências e menosprezos de escava.<br />

- Não pude demovê-la com serviços (disse Juliano), porque amante<br />

aborreci<strong>do</strong> com as finezas ofende e com desvelos e carícias desmerece.<br />

- Pois (replicou o capelão) se a não pudestes enternecer aman<strong>do</strong>, como<br />

a intentáveis merecer ofenden<strong>do</strong>? Confiáveis mais <strong>do</strong>s agravos que <strong>do</strong>s<br />

serviços? Mais valimentos acháveis na tirania que na brandura? Se com meios<br />

tão suaves não conseguíeis o ser favoreci<strong>do</strong>, como valen<strong>do</strong>-vos <strong>do</strong>s cruéis<br />

presumíeis avançar a serdes ama<strong>do</strong>? Erro foi de entendi<strong>do</strong>, haven<strong>do</strong> de ser<br />

proporciona<strong>do</strong>s os meios aos fins para granjeardes amor, tomardes por meio a<br />

violência. Se podereis roubar a vontade, assim como roubáveis a pessoa,<br />

ain<strong>da</strong> com ser tal o desacerto na acção, buscara desculpas no efeito; mas<br />

quan<strong>do</strong> este não podia seguir-se, como podia o intento desculpar-se? Tu<strong>do</strong><br />

foram enganos <strong>do</strong> discurso e tu<strong>do</strong> desacertos <strong>da</strong> eleição.<br />

- Temo muito (disse Juliano) a presença <strong>do</strong> vice-rei e a sentença que<br />

há-de <strong>da</strong>r-me seu rigor, assim mal posso admitir alívio em minha pena.<br />

- Quisera eu (senhor Juliano) replicou o capelão, que tivéreis vós na<br />

memória mui presente a presença <strong>do</strong> Justo Juiz de vivos e mortos, nosso<br />

salva<strong>do</strong>r Jesus Cristo, e a sentença que pode <strong>da</strong>r-vos de eterna condenação,<br />

que esta só era para ser temi<strong>da</strong> e à vista desta não temeríeis a outra. Que tem<br />

que ver o temporal com o eterno, o momentâneo com o permanente? To<strong>da</strong>s as<br />

penas desta vi<strong>da</strong> compara<strong>da</strong>s com as <strong>da</strong> outra parecem pinta<strong>da</strong>s. Para

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