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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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220 Padre Mateus Ribeiro<br />

diverti<strong>do</strong>, crepúsculos entre a noite <strong>do</strong> sentimento e o dia <strong>do</strong> alívio,<br />

entrecadências entre as tempestades <strong>do</strong> agravo e as bonanças <strong>do</strong> alívio, férias<br />

entre o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>r e o ócio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, passava o nosso forasteiro, quan<strong>do</strong> um<br />

dia que entre outros viu ao Ermitão mais livre de ocupações de passageiros<br />

que o buscavam ain<strong>da</strong> na sole<strong>da</strong>de em que vivia, lhe pediu encareci<strong>da</strong>mente<br />

quisesse satisfazer-lhe a promessa de lhe contar os discursos de sua vi<strong>da</strong>. O<br />

Ermitão, que pela promessa se via obriga<strong>do</strong> e pela amizade empenha<strong>do</strong> a<br />

satisfazer-lhe o desejo, assentan<strong>do</strong>-se com ele sobre a relva, de um ameno<br />

pra<strong>do</strong>, a quem formavam pavelhão os frescos ramos de um copa<strong>do</strong> freixo, deu<br />

princípio aos perío<strong>do</strong>s de sua vi<strong>da</strong>, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Se o repetir naufrágios na tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> bonança talvez é alívio para<br />

quem os refere e suspensão para quem os ouve, o referir arrojos <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de<br />

poderá avaliar-se por indecência <strong>da</strong> velhice. São os exemplos, como disse<br />

Cícero 285 , motivos grandes para persuadir; e o Juvenal 286 diz que mais<br />

facilmente se imita o licencioso <strong>do</strong> tempo que o desengana<strong>do</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; porém<br />

porque vos considero hoje com a experiência de vossos passa<strong>do</strong>s infortúnios,<br />

ain<strong>da</strong> que nos anos moço, nos desenganos velho, principiarei a história de<br />

minha vi<strong>da</strong>, sem ocultar os discursos e varie<strong>da</strong>des dela, para que vos consoleis<br />

em vossas tristezas, ven<strong>do</strong> que não sois singular nos desgostos padeci<strong>do</strong>s.<br />

Meu nome é Felisberto, minha pátria a ilustre ci<strong>da</strong>de de Nápoles que na<br />

Campania feliz de Itália está situa<strong>da</strong>, vizinha às on<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mar Mediterrâneo,<br />

em quem a fermosura de seus edifícios como em espelho se retrata, cuja<br />

sumptuosi<strong>da</strong>de pode emparelhar com as mais célebres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Os antigos<br />

lhe chamaram Pathenope, <strong>do</strong> nome de uma <strong>da</strong>s três músicas que a<br />

antigui<strong>da</strong>de celebrou debaixo <strong>do</strong> fingimento <strong>da</strong>s sereias, como diz Sílio Itálico,<br />

que junto às praias <strong>do</strong> mar foi sepulta<strong>da</strong> vizinha aos muros de minha pátria, té<br />

que a grandeza de seus aumentos lhe mu<strong>do</strong>u o nome em o de Nápoles, que<br />

significa nova ci<strong>da</strong>de, como lhe chamaram os calcedónios e atenienses, a<br />

quem ela deve o próspero de sua renovação, como Fénix renasci<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cinzas<br />

de sua ruína. Em esta pois nobre e ilustre ci<strong>da</strong>de, a nenhuma inferior nas<br />

opulências e a muitas superior na majestade, nasci eu de pais ilustres no<br />

Cicer., Officior. 1. et 3. De oral<br />

Juven., Sat. 14.

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