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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 265<br />

lembrança <strong>da</strong> pena é um tormento novo para a memória e um martírio em que<br />

padece o coração.<br />

Não necessitara, senhores, minha lembrança de incentivos para servir-<br />

vos enquanto me durar a vi<strong>da</strong>, porque jamais se riscará de minha memória o<br />

que por mim fizestes, a quietação que perdestes, os <strong>do</strong>micílios que deixastes,<br />

os riscos a que vos oferecestes. Só sentirei não me ser possível poder<br />

cabalmente restaurar tantas per<strong>da</strong>s, assim como sei avaliar as obrigações,<br />

porque não igualam os poderes aos desejos; mas tu<strong>do</strong> o que em mim houver<br />

de valia, e até oferecer a própria vi<strong>da</strong>, será o menor desempenho de minha<br />

obrigação.<br />

- Quan<strong>do</strong> eu soubera, senhor Alexandre (disse Dom Sancho), que o<br />

senhor Dionísio Montal<strong>do</strong> tinha tão pouca razão em sustentar o desafio, nem<br />

eu apadrinhara sua injustiça, nem consentira que a tão justa dívi<strong>da</strong> faltasse;<br />

mas como eu ignorava a causa, e ele negava a obrigação, não pude em<br />

pun<strong>do</strong>nor de sol<strong>da</strong><strong>do</strong> deixar de acompanhar a quem como amigo de mim se<br />

valia. Porém ele como discreto veio em conhecimento <strong>do</strong> muito que ganhava<br />

em ser esposo <strong>da</strong> senhora Anastácia, por quem se podem <strong>da</strong>r por bem<br />

emprega<strong>do</strong>s os discómo<strong>do</strong>s padeci<strong>do</strong>s, e quan<strong>do</strong>, senhor Alexandre, por<br />

servir-vos se ofereceram outros maiores, em meu ânimo achareis sempre valor<br />

para sofrê-los, porque tu<strong>do</strong> merece vossa cortesia.<br />

A este tempo se ouviu o tiro de uma pistola que a to<strong>do</strong>s causou notável<br />

susto, porque o inculto <strong>do</strong> sítio solitário em que estávamos, o silêncio e escuro<br />

<strong>da</strong> noite não <strong>da</strong>vam lugar a imaginarmos que podia ser caça<strong>do</strong>r quem a tais<br />

horas disparava. É o temor gigante <strong>da</strong>s cousas que de pequenas as faz<br />

grandes: nunca para quem se receia houve perturbação limita<strong>da</strong>. Lá disse<br />

Euripides que quem caminha por terra suspeitosa em ca<strong>da</strong> passo pisa um<br />

receio, e como nós estávamos ain<strong>da</strong> dentro <strong>do</strong> reino, o caminho erra<strong>do</strong>, o lugar<br />

sem saí<strong>da</strong>, mais próprio para mora<strong>da</strong> de feras que para assistência de<br />

homens, temíamos se porventura seria gente que o vice-rei em nosso<br />

seguimento man<strong>da</strong>sse e por espias nos descobrisse. To<strong>do</strong>s nos levantámos a<br />

preparar as armas para o que suceder pudesse, ao tempo que a lua vinha<br />

nascen<strong>do</strong>, envelheci<strong>da</strong> com crepúsculos de luz que entre a névoa mal se<br />

divisavam: mas pouco tar<strong>do</strong>u o desengano, ven<strong>do</strong> uma quadrilha de<br />

ban<strong>do</strong>leiros entrar pela espessura <strong>do</strong> mato como práticos nos caminhos, os

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