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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 687<br />

que Finar<strong>da</strong> por amante? E que sen<strong>do</strong> sujeito tão indigno para poder merecer-<br />

te, fosse o sujeito mais felice para poder obrigar-te?<br />

Que dirá o mun<strong>do</strong>, com razão atrevi<strong>do</strong> ao venerável de teu decoro, se te<br />

viram (a) desluzi<strong>da</strong>mente emprega<strong>do</strong>? Pois quem se estima a si mesmo tão<br />

pouco, como será <strong>do</strong>s outros estima<strong>do</strong>? Recor<strong>da</strong>, ó Salviano, <strong>do</strong> profun<strong>do</strong><br />

letargo de teus devaneios. Que encanto é este de sereia que a<strong>do</strong>rmece teus<br />

senti<strong>do</strong>s? Se me conheces, como tão injusto me tratas? Como chegam minhas<br />

queixas a não serem de ti ouvi<strong>da</strong>s? Pois o que não abre brecha no coração<br />

raramente faz demora nos senti<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> me deixasses por sujeito tão<br />

superior que pudesse exceder-me e igualar-te, ain<strong>da</strong> pudera meu sentimento<br />

admitir esse penoso alívio; porque a troco de te considerar mais altivamente<br />

empenha<strong>do</strong> ou mais decorosamente emprega<strong>do</strong>, suspendera a eterna ro<strong>da</strong> de<br />

minha <strong>do</strong>r talvez o movimento de sua pena, sen<strong>do</strong> o discreto de tua eleição<br />

desculpa ao desaire de tua mu<strong>da</strong>nça. Mas se vejo que tua escolha segue<br />

precipita<strong>da</strong> os ditames de teu gosto e não os de teu juízo, que esperas que<br />

diga Finar<strong>da</strong>, de antes lisonja de teu agra<strong>do</strong> e hoje esquecimento de tuas<br />

memórias, de antes pertendi<strong>da</strong> com tantas promessas de seres meu esposo e<br />

hoje com tantos motivos de seres meu tormento?<br />

Considera, ingrato Salviano, o estima<strong>do</strong> de meu crédito posto em<br />

opiniões por teu respeito, e que se me não per<strong>do</strong>ou o mun<strong>do</strong> com serem meus<br />

pensamentos em ti tão bem coloca<strong>do</strong>s, que não censurasse o cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, não<br />

murmurasse o desvelo, com ser eu tua igual para poder merecer-te; que dirá o<br />

mun<strong>do</strong> se te vir casa<strong>do</strong> com quem tão longe está para igualar-te e ain<strong>da</strong> tão<br />

descui<strong>da</strong><strong>da</strong> de querer-te? Confesso que Estela é fermosa; porém assenta essa<br />

beleza sobre fun<strong>da</strong>mentos tão humildes de nascimento e riqueza que, por mais<br />

que se desvele teu amor em levantá-la, nunca poderás subi-la, pois há-de<br />

pesar mais o nativo de sua baixeza que o desvelo de teu favor. Que a lua<br />

nunca se livra <strong>da</strong>s manchas que mostra porque nasceu com elas; e por muito<br />

que o sol lhe comunique as luzes, nunca lhe prateou as sombras. Não<br />

presumas, Salviano, que falam só meus ciúmes, porque fala também meu<br />

amor por acudir por teu crédito; pois mostrara que te amara pouco, quan<strong>do</strong> teu<br />

pun<strong>do</strong>nor me não custara muito, e mais sinto eu os ameaços <strong>do</strong> que a ti<br />

Com senti<strong>do</strong> de futuro imperfeito <strong>do</strong> conjuntivo: virem.

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