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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 447<br />

Santo Ambrósio no fingimento com que se ouve José com seu irmão<br />

Benjamim, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe esconder a taça no saco de trigo para prendê-lo, e<br />

chama-lhe engano pie<strong>do</strong>so para restaurar a seus olhos a presença e vista de<br />

quem tanto amava. Quasi deste mo<strong>do</strong> se ouve Flora em Reginal<strong>do</strong>, que não<br />

duvi<strong>do</strong>u em culpá-lo injustamente de rouba<strong>do</strong>r para depois desanojá-lo amante<br />

e pagar-lhe nas maiores finezas <strong>do</strong> querer os injustos agravos de o culpar.<br />

Caminharam os cria<strong>do</strong>s e monteiros <strong>do</strong> conde com to<strong>da</strong> a pressa,<br />

desquartinan<strong>do</strong> com a vista e diligência não só as praias <strong>do</strong> mar, mas as<br />

ensea<strong>da</strong>s e penhascos mais remonta<strong>do</strong>s e escondi<strong>do</strong>s, té que foram descobrir<br />

a Reginal<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> na concavi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> marítimo roche<strong>do</strong>. É o sono, diz o<br />

padre Santo Agostinho 435 , o tribunal para onde costumam apelar os tristes,<br />

sen<strong>do</strong> insensível refúgio de que se vai a alma no sentimento de suas penas. É<br />

o sono alegre lisonja apeteci<strong>da</strong> <strong>do</strong> cansaço, diz São João Crisóstomo 436 , para<br />

quem trabalha e não menos é alívio <strong>da</strong>s aflições para quem as padece, que<br />

como estão embarga<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s para não sentirem, também ficam<br />

suspensas as operações <strong>da</strong> alma para com suas memórias não atormentarem.<br />

Assim estava Reginal<strong>do</strong> neste limbo natural <strong>do</strong> descui<strong>do</strong> de seus desgostos,<br />

quan<strong>do</strong> acor<strong>do</strong>u cerca<strong>do</strong> de quem em um instante se viu prisioneiro e<br />

despoja<strong>do</strong> <strong>da</strong>s armas e ata<strong>da</strong>s as mãos como delinquente, afrontan<strong>do</strong>-o com<br />

títulos de desleal ao conde e rouba<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s preciosas jóias de Flora, sua<br />

senhora, foram caminhan<strong>do</strong> com ele para a quinta de Manfre<strong>do</strong>, sem lhe valer<br />

nem a inocência que era o mais, nem a desculpa que era o menos.<br />

Considerai, senhores, que sentiria o ansia<strong>do</strong> coração de Reginal<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> se considerasse de Flora por tantas vias ofendi<strong>do</strong>. Lá disse o Cícero 437<br />

que tinha a injúria de si própria tal estímulo que com dificul<strong>da</strong>de as podiam<br />

dissimular os varões prudentes. Bem disse Santo Agostinho 438 que eram as<br />

injúrias a pedra de toque em que se descobria o valor no sofrimento dela. É<br />

demonstração <strong>do</strong>s ânimos generosos o não se mostrarem venci<strong>do</strong>s <strong>da</strong> fortuna.<br />

S. Amb., Lib. de Joseph.<br />

D. Aug., Lib. 10. Conf. c. 13.<br />

Chrysost., Horn. 2. Ad popul. Antioc.<br />

Cicer., Act. 5. in Ver.<br />

S. Aug., in Psal. 62.

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