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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 871<br />

inocentes lavra<strong>do</strong>ras, para serem presa de seu libidinoso apetite, se Deus,<br />

compadeci<strong>do</strong> <strong>do</strong> lamentável de suas lágrimas, não as socorrera? Pudéreis<br />

perder a vi<strong>da</strong> em esta<strong>do</strong> tão arrisca<strong>do</strong> à salvação, odioso aos homens e<br />

abominável ao mun<strong>do</strong>. E pois foi Deus servi<strong>do</strong> que escapásseis vivo, sabei<br />

aproveitar-vos de tão favorável ocasião para conhecerdes o deprava<strong>do</strong> a que<br />

procedestes, o labéu que contraístes, a fama que manchastes, o bem que<br />

perdestes e o mal que obrastes, arrependen<strong>do</strong>-vos de tão mal gasta<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; e<br />

pois vos valestes de mim, não vos hei-de faltar com o remédio no que mais<br />

conveniente e útil vos for.<br />

Cap. XVI.<br />

Como Jacinta e Doroteia se partiram para Cesena e <strong>do</strong> que se passou até os<br />

desposórios de Florisela com Feliciano<br />

Confuso de seus desacertos cometi<strong>do</strong>s e convenci<strong>do</strong> de tão<br />

concludentes razões de seus erros ouviu Constantino a Lisar<strong>do</strong>, sem ter mais<br />

desculpa que <strong>da</strong>r que confessarem seus olhos nas lágrimas de arrependi<strong>do</strong> o<br />

que calavam as vozes de magoa<strong>do</strong>. São as lágrimas substitutas <strong>da</strong>s palavras e<br />

intérpretes <strong>da</strong> <strong>do</strong>r, que mais explicam talvez sen<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>s <strong>do</strong> que as locuções<br />

mais eloquentes. São as lágrimas, como diz Quinto Cúrcio 842 , demonstrações<br />

<strong>do</strong> arrependimento e, quan<strong>do</strong> se segue a emen<strong>da</strong>, dignas de muita estimação.<br />

Por tal as estimaram enterneci<strong>do</strong>s seus pie<strong>do</strong>sos benfeitores, desejan<strong>do</strong><br />

poderem <strong>da</strong>r-lhe remédio, pois em livrá-lo <strong>do</strong> perigo empenha<strong>do</strong>s se viam.<br />

Bateram nisto à porta <strong>da</strong> quinta a horas que a noite se avizinhava, e era o<br />

ancião lavra<strong>do</strong>r Arnal<strong>do</strong>, que com os felices anúncios que recebera de estarem<br />

sua filha Doroteia e Jacinta livres <strong>da</strong> foragi<strong>da</strong> insolência na quinta de Feliciano,<br />

vinha buscá-las e a desenganar-se com a vista <strong>do</strong> que ain<strong>da</strong> duvi<strong>da</strong>va sua<br />

ventura pela fama.<br />

Tem as alegrias grandes muito de escrupulosas para serem cri<strong>da</strong>s; por<br />

isso Demócrito Abderita de tu<strong>do</strong> quanto via se ria e o filósofo Heraclito Efesino,<br />

pelo contrário, de tu<strong>do</strong> quanto via chorava, porque tu<strong>do</strong> o <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> lhes<br />

Quint. Curt., Lib. 5.

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