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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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334 Padre Mateus Ribeiro<br />

hospe<strong>da</strong>rmos; mas era tão eficaz em mim a memória de Laura que fez divórcio<br />

o sono com meus olhos, porque tinha ela senhorea<strong>do</strong> meus senti<strong>do</strong>s. Lá disse<br />

Cícero 331 que estimara antes saber a arte de esquecer-se que de saber<br />

lembrar-se; porque lhe lembravam muitas cousas que desejava esquecer e não<br />

podia, e <strong>da</strong>s que queria lembrar-se, sempre se lembrava. Porteira <strong>da</strong> vontade é<br />

a memória <strong>do</strong> que se ama: para entrar o amor, a memória lhe franqueia a<br />

porta; não tivera tão fácil entra<strong>da</strong> o querer, se não fora tão solícita porteira a<br />

memória no lembrar. E como a de Laura era em mim tão poderosa que não<br />

podia esquecer-me, não foi maravilha render-me amante de quem tinha tantas<br />

pren<strong>da</strong>s para merecer amar-se. Já me desvelavam os <strong>do</strong>us pertendentes,<br />

Fábio e Júlio; já temia que fosse de outros pertendi<strong>da</strong>; afligia-me o que se<br />

publicava de sua isenção e alegrava-me porque com to<strong>do</strong>s se mostrasse<br />

esquiva. Sentia que não chegasse o dia para vê-la e sentia que chegasse para<br />

deixá-la; e de tantos contrários no desejo, ficava Laura sen<strong>do</strong> o único motivo na<br />

vontade.<br />

Enfim chegou a luz a <strong>da</strong>r novas <strong>da</strong> aurora; mas já as tinha eu de que o<br />

sol amanhecia em Laura, e madrugan<strong>do</strong> minhas esperanças como desvela<strong>da</strong>s,<br />

acharam presente em Laura o dia, sen<strong>do</strong> dela recebi<strong>do</strong> com mostras de<br />

alegria, grande favor que agradeci à companhia de Lucin<strong>da</strong> que de permeio<br />

estava. Queria Vetúria nos detivéssemos mais tempo pelo gosto que<br />

mostravam receber com Lucin<strong>da</strong>; mas o conde, por satisfazer com brevi<strong>da</strong>de<br />

ao que o grão-duque queria, não deu lugar nem a seu gosto, nem a meu<br />

desejo. Despedimo-nos <strong>da</strong> mãe e filha com os rendimentos de muito<br />

agradeci<strong>do</strong>s, e elas de Lucin<strong>da</strong> bem sau<strong>do</strong>sas, prometen<strong>do</strong>-se eternas<br />

amizades e correspondências de que eu me oferecia ser o mensageiro.<br />

- Pois com esta promessa (disse Laura) consentirei no apartamento de<br />

quem tanto estimo.<br />

Com isto nos despedimos, caminhan<strong>do</strong> para chegar a Roma, aquela<br />

pátria comum a to<strong>do</strong>s, como os jurisconsultos lhe chamaram; cabeça <strong>da</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, como lhe deu título Santo Agostinho 332 , e imperial <strong>do</strong>micílio,<br />

Cie, 4. De finib.<br />

S. Aug., in Quœst. ex utroq. Testam.

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