17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1033<br />

excesso de mal sofri<strong>do</strong>. Pois por não se chegar a uma quebra descoberta,<br />

parece que se podia dissimular com uma livian<strong>da</strong>de aparente e que ofende<br />

pouco. É o imperioso muitas vezes aborreci<strong>do</strong>, pudéreis aceitar qualquer<br />

desculpa de Doroteia, pois estava senhora de seu alvedrio, que talvez com<br />

esta se acautelara quem afirmava que vos queria.<br />

Nunca se deve romper com a pessoa a quem depois haveis de rogar,<br />

porque sobre a quebra ficam os rogos à discrição de não serem admiti<strong>do</strong>s; e o<br />

que se rejeitou por desculpa, veio a declarar-se por ofensa. Dizeis que está<br />

Doroteia empenha<strong>da</strong> com Hortênsio: talvez que o repeti<strong>do</strong> de vossa queixa<br />

veio a ser causa de sua resolução, pois nunca chegaria a declarar-se por<br />

amante de vosso competi<strong>do</strong>r, se primeiro se não mostrara de vossas<br />

desconfianças ofendi<strong>da</strong>; queren<strong>do</strong> vingar-se com a ver<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que só parava<br />

em aparentes presunções. São as mulheres, diz Juvenal 1119 , vingativas, e quis<br />

Doroteia com o rigor <strong>da</strong> vingança acreditar-se de não ser culpa<strong>da</strong>, mostran<strong>do</strong><br />

que a injustiça de vosso agravo não pedia menor castigo. Nunca foi prudência<br />

apurar tanto o sofrimento que chegue a romper em desesperação. Quisestes<br />

replicar tanto às desculpas que as que nela o pareciam, passaram a vinganças,<br />

sen<strong>do</strong> desgraça que a que culpáveis de ofensora viesse a vestir-se de<br />

ofendi<strong>da</strong>, e que pon<strong>do</strong> à parte as desculpas, se mostrasse empenha<strong>da</strong> nas<br />

vinganças.<br />

Pudéreis <strong>da</strong>r-vos por satisfeito se Doroteia confessava que vos amava,<br />

pois quem deveras ama, não ofende, e mais aspiran<strong>do</strong> em ter em vós esposo,<br />

que é carta de seguro para evitar ofensas, a que pretende casamento que tanto<br />

lhe competia; e suposto que vosso competi<strong>do</strong>r se empenhasse em querê-la e<br />

servi-la sen<strong>do</strong> mais rico, coração que está ocupa<strong>do</strong> não recebe novo mora<strong>do</strong>r,<br />

e no tribunal <strong>do</strong> gosto não preferem as riquezas, nem muitas vezes se aceita o<br />

que julga o discurso por melhor. Enfim o passa<strong>do</strong> já não tem remédio e para<br />

sol<strong>da</strong>r-se um erro, muitos acertos são necessários, e talvez não aproveitam por<br />

chegarem tarde. Bebestes o veneno <strong>do</strong>s ciúmes arroja<strong>da</strong>mente: mortal era a<br />

bebi<strong>da</strong>, venenoso o trago; declinou seu rigor em deixar-vos tristes, não vos<br />

admireis, que pudera ser pior. Pedis-me conselho para o remédio, desejara eu<br />

acertar a dá-lo, mas direi o que enten<strong>do</strong> nesta matéria.<br />

Juv., Satyr. 6.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!