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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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210 Padre Mateus Ribeiro<br />

paga. Neste santo monte, a quem angélicos favores ilustram e com tão insigne<br />

santuário se enobrece, aonde minhas tristezas acharam consolação e meus<br />

sentimentos alívio, quero passar o restante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em vossa companhia, se<br />

este favor não encontrar meu pouco merecimento.<br />

E por <strong>da</strong>r-vos a última notícia de meus sucessos, deixan<strong>do</strong> a Eugenia<br />

em Grana<strong>da</strong> passei a Múrcia, e <strong>da</strong>í a Valência, sem alcançar notícia alguma<br />

nem indícios <strong>do</strong> que procuravam meus vingativos furores. Entrei por Aragão e<br />

Catalunha, embarquei-me em Barcelona nas galés de Espanha, cheguei a<br />

Génova, pátria de nossa antiga família <strong>do</strong>s Fiescos, à vista <strong>da</strong> qual achei novos<br />

motivos de sentimento, consideran<strong>do</strong> seu antigo lustre e glória e mu<strong>da</strong>nça que<br />

fez o tempo nela; ali recordei minhas ofensas e agravos, ven<strong>do</strong> que o teatro em<br />

que se representaram tantas opulências de meus progenitores, tantas heróicas<br />

empresas e honrosos cargos, hoje servia não somente à memória de seus<br />

desterros, mortes e infortúnios, mas juntamente à representação de minhas<br />

ofensas e agravos. Enfim, por não aumentar mais minha <strong>do</strong>r e meu sentimento,<br />

saí de Génova, passei à Lombardia, cheguei a Roma, aquele abrevia<strong>do</strong><br />

compêndio de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, se antigamente cabeça e metrópoli <strong>do</strong> maior<br />

império, hoje com maior excelência de to<strong>da</strong> a cristan<strong>da</strong>de; atravessei Nápoles<br />

e Calábria, cheguei a Apulha, aonde os desejos de visitar este admirável<br />

santuário ocasionaram a ventura de encontrar-vos, para alívio de minhas<br />

tristezas, para consolação de minhas queixas e sentimentos grandes.<br />

E pois em vossa conversação alcancei sossego a minhas maiores<br />

inquietações, não me encontreis o alívio de ficar em vossa companhia, pois a<br />

de tão prudente e sábio sujeito pode e deve com to<strong>do</strong>s os extremos procurar-<br />

se para remédio; que quan<strong>do</strong> com a anciani<strong>da</strong>de reveren<strong>da</strong> de vossa i<strong>da</strong>de se<br />

dá a madureza de juízo, o acerto <strong>da</strong> prudência, a sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong>s conselhos, a<br />

discrição <strong>da</strong>s palavras e a vi<strong>da</strong> tão exemplar e reforma<strong>da</strong> nas acções, como<br />

[em] vós se manifesta, não há dúvi<strong>da</strong> que está nos anciãos a prudência, como<br />

disse Aristóteles 279 ; que neles se acham os conselhos, como disse<br />

Euripides 280 ; a prática mais suave e grave, como tem para si S. Gregório<br />

Arist., Polit. 7.<br />

Eurip., apud Plut. De educai, líber.

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