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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 797<br />

aventura<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> a perigos tão evidentes. Neste caminho de Bolonha se<br />

moveu uma questão, em que Roberto disse assi:<br />

- Se, como diz Quintiliano 701 , a chaga escondi<strong>da</strong> desacredita a inocência<br />

quan<strong>do</strong> o temor mostra que deve quem muito se receia, à vista desta fugi<strong>da</strong> de<br />

Lívia, que certeza posso eu admitir de não me haver ofendi<strong>do</strong>? É o temor a<br />

primeira prova de um delito, pois nunca tem o coração seguro quem tem a<br />

consciência pela culpa inquieta, porque diz Homero 702 que nunca tem o temor<br />

jurisdição no inculpável. É a inocência <strong>do</strong> delito mar em calma que não padece<br />

tormenta, estanque tranquilo que não levanta on<strong>da</strong>s, aura bonançosa que não<br />

admite nuvem, estra<strong>da</strong> pratea<strong>da</strong> em que ninguém tropeça, sol de Primavera<br />

que a ninguém ofende, muro inexpugnável que a to<strong>do</strong>s assegura. Porém se eu<br />

vejo em Lívia tão excessivo termo que ain<strong>da</strong> na companhia de quem a defende<br />

foge, não reparan<strong>do</strong> no decoro por livrar-se, que direi? Tão impossível tinha a<br />

pie<strong>da</strong>de nos corações tão nobres que me acompanham que duvi<strong>da</strong>va achar<br />

intercessor para ser ouvi<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> os condena<strong>do</strong>s não carecem de<br />

intercessor? E quereis, senhor Lisar<strong>do</strong>, que à vista de tão eficazes indícios me<br />

não julgue eu por ofendi<strong>do</strong>?<br />

Oh fermosura enganosa, rosa de espinhos cerca<strong>da</strong>, pírula <strong>do</strong>ura<strong>da</strong> que<br />

encobres o desabri<strong>do</strong> nos fulgores <strong>do</strong> ouro, áspide que entre as flores disfarça<br />

o veneno, sol de Inverno: fermoso na aparência e breve na duração, espa<strong>da</strong> de<br />

ouro e verdugo <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s, canto de rouxinol com garras de harpia, lisonja <strong>do</strong>s<br />

olhos e martírio <strong>do</strong> coração, adulação <strong>da</strong> vontade e esfinge <strong>do</strong> juízo, labirinto<br />

enganoso com entra<strong>da</strong> e sem saí<strong>da</strong>, que nunca te vira, porque agora com<br />

tantos excessos não penara! Com esta fugi<strong>da</strong> quisestes <strong>da</strong>r prova a meus<br />

receios e fazeres certo o que, se não fugiras, puderas pôr em suspensão de<br />

duvi<strong>do</strong>so meu agravo; porém nesta fugi<strong>da</strong> que hei-de inferir senão que o<br />

remorso de tua culpa foi o ministro de teu temor e a fonte que originou teu<br />

receio? Pretendi-te por esposa sen<strong>do</strong> tu <strong>do</strong>s bens <strong>da</strong> fortuna pobre, se nos<br />

<strong>do</strong>tes <strong>da</strong> natureza rica: fez-te meu amor senhora de minha vontade, que era o<br />

mais, e de minhas riquezas, que era o menos; tinha-te coloca<strong>do</strong> minha<br />

estimação no culminante de minhas glórias, no Olimpo superior de minha<br />

Quint., Decl. 13.<br />

Horn., Plut. De vir. mor.

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