17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

72 A novela portuguesa no século XVII:<br />

Claudiana, sua irmã, rapta<strong>da</strong> pelo conde Roberto enquanto Frederico seguia as<br />

letras, a briosa <strong>do</strong>nzela acabou por conseguir resistir à violência que o conde<br />

intentava perpetrar e matou-o a punhala<strong>da</strong>s. Estes acontecimentos acabam por<br />

ser o mote para mais uma reflexão <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r sobre a desigual<strong>da</strong>de na<br />

aplicação <strong>da</strong> justiça com base na diferença de estatuto social e riqueza <strong>do</strong>s<br />

intervenientes.<br />

Mas os infortúnios continuaram a marcar a atribula<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de Frederico.<br />

Depois de Claudiana entrar num convento, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> os estu<strong>do</strong>s por recear<br />

a vingança <strong>do</strong>s parentes <strong>do</strong> conde Roberto, Frederico envere<strong>do</strong>u pela carreira<br />

militar, servin<strong>do</strong> no exército de Carlos V, chegan<strong>do</strong> a capitão de cavalos. De<br />

regresso a Nápoles, sua pátria, enquanto assistia às festas que na ci<strong>da</strong>de se<br />

celebravam, sofreu uma ofensa de um cria<strong>do</strong> de Raimun<strong>do</strong>, primo <strong>do</strong> defunto<br />

conde Roberto, e em resposta matou três <strong>do</strong>s mascara<strong>do</strong>s que o<br />

acompanhavam no cortejo. Fugin<strong>do</strong> ao auditor <strong>da</strong> justiça, acabou por se juntar<br />

a um grupo de criminosos foragi<strong>do</strong>s.<br />

Depois de Frederico narrar a sua admirável história, exemplo <strong>da</strong> "mudável<br />

ro<strong>da</strong> <strong>da</strong> fortuna", o Ermitão Felisberto aplaca a sua ira e persuade-o a desistir<br />

<strong>da</strong> sua vingança, incitan<strong>do</strong>-o a salvar a vi<strong>da</strong> e a honra. O antigo capitão de<br />

ban<strong>do</strong>leiros aban<strong>do</strong>nou então os seus companheiros e seguiu viagem com os<br />

peregrinos para Roma, onde os seus pais se tinham refugia<strong>do</strong>. Alivia<strong>do</strong> e<br />

consola<strong>do</strong> por Felisberto, Frederico confessa-se com um religioso penitenciário<br />

<strong>do</strong> Papa Paulo III, "de cujos santos conselhos e admoestações veio tão troca<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> que antes fora, como costuma mu<strong>da</strong>r a divina graça os corações em que<br />

entra." 7<br />

Justifican<strong>do</strong> a Felisberto a sua maravilhosa mu<strong>da</strong>nça e o retiro que fazia<br />

às vai<strong>da</strong>des <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, experimenta<strong>do</strong> que tinha o lisonjeiro de seus enganos,<br />

Frederico referiu como tal se devia à conversação que tivera com o religioso, e<br />

em particular a exemplari<strong>da</strong>de de uma narrativa colhi<strong>da</strong> na Vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> abade São<br />

Pafúncio, relato <strong>da</strong>s obras de cari<strong>da</strong>de efectua<strong>da</strong>s por um ban<strong>do</strong>leiro que se<br />

converteu depois em tange<strong>do</strong>r de viola, e na Vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> abade David, referin<strong>do</strong> a<br />

história de conversão de um capitão de uma quadrilha de ban<strong>do</strong>leiros que, já<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte II, p.297.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!