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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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846 Padre Mateus Ribeiro<br />

suposto havia tempo que dela faltava, não tínhamos notícia que em tão odioso<br />

exercício diverti<strong>do</strong> an<strong>da</strong>sse. Levantámo-lo em braços para que se assentasse,<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe <strong>do</strong>ces e vinho que <strong>do</strong> provimento que na repostaria para os dias <strong>da</strong><br />

caça<strong>da</strong> levávamos, apertan<strong>do</strong>-lhe as feri<strong>da</strong>s a ele e ao companheiro para se<br />

lhes estancar o sangue que as feri<strong>da</strong>s copiosamente derramavam; e ven<strong>do</strong> que<br />

se mostrava com mais alento, assenta<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s junto dele, lhe falei assi:<br />

- É o desconhecimento a ocasião e a desculpa <strong>do</strong>s perigos. Ignorar, diz<br />

Aristóteles 793 , o que a to<strong>do</strong>s convém saber é culpa, porque é mostrar descui<strong>do</strong><br />

no que de to<strong>do</strong> é preciso que se conheça. Porém mostrar ignorância no que<br />

não é conhecível à obrigação, diz Cícero 794 , não admite censura por não saber-<br />

se. Quem havia de avisar-me a mi, Constantino, que haven<strong>do</strong>-vos visto nas<br />

escolas de Bolonha tão estudioso, vos encontrasse nos fragosos penhascos <strong>do</strong><br />

Apenino, monte tão dissoluto? Que simpatia tem as leis que estu<strong>da</strong>stes com as<br />

insolências que seguis? O estu<strong>da</strong>r para castigar delitos com o cometê-los? O<br />

pacífico <strong>da</strong>s academias com o saltear as estra<strong>da</strong>s? A profissão <strong>da</strong>s letras com<br />

roubar passageiros? E finalmente o des<strong>do</strong>urar a vossos pais e desautorizardes<br />

vossa pátria, poden<strong>do</strong> com o que estu<strong>da</strong>stes servir a ela de lustre e a eles de<br />

honra? Não vos lembra que diz Cícero 795 que ao saltea<strong>do</strong>r e ao trai<strong>do</strong>r to<strong>da</strong> a<br />

morte que se lhes der é justamente mereci<strong>da</strong>? Porque é tão odioso o vício de<br />

roubar que lhe atribui Aristóteles 796 to<strong>do</strong>s os vícios; e disse Santo Agostinho 797<br />

que se o furto sempre é aborreci<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> o rouba<strong>do</strong> o ignora, que será<br />

quan<strong>do</strong> violentamente se executa? Para tão vil exercício vos desvelastes nos<br />

livros, resistin<strong>do</strong> ao sono <strong>da</strong> noite e aos frios e calmas de dia? Para tal fruto<br />

despendestes o flori<strong>do</strong> <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de em decorar as leis, em explorar <strong>do</strong>s textos o<br />

senti<strong>do</strong>, em investigar <strong>do</strong>s legisla<strong>do</strong>res a tenção, em explicar <strong>do</strong>s imperiais<br />

decretos o direito, em copiardes <strong>da</strong>s <strong>do</strong>ze tábuas que os romanos de Atenas<br />

trouxeram o justo estabelecimento <strong>da</strong>s leis que aos atenienses deu Sólon?<br />

Ver<strong>da</strong>deiramente que ao considerardes como a razão o pede, mais poderoso<br />

Arist., Rhetor. 2.<br />

Cie, 3. Tusc.<br />

Cicer., Pro Mil.<br />

Arist., Rhetor. 2.<br />

S. Aug., in Serm.

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