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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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928 Padre Mateus Ribeiro<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s malogra<strong>do</strong>s, suas esperanças ruinosas, seus passeios sem frutos,<br />

seus desvelos sem proveito e finalmente tempo perdi<strong>do</strong> seus amantes intentos.<br />

Porém quanto em Fenisa era maior o retiro de ser vista, tanto em Raimun<strong>do</strong> se<br />

duplicava a ambição cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa de poder vê-la. Fez a mesma dificul<strong>da</strong>de novo<br />

incentivo ao desejo com repetir na memória os visos <strong>da</strong> fermosura juntamente<br />

com a repugnância, consideran<strong>do</strong> não só o agradável, mas juntamente o<br />

esquivo.<br />

Impaciente pois ao sofrimento de competirem em Fenisa os Alpes mais<br />

neva<strong>do</strong>s em que habitava com os Etnas mais abrasa<strong>do</strong>s que por ela em seu<br />

peito viviam, sain<strong>do</strong> a desafio nela o maior descui<strong>do</strong> e nele to<strong>do</strong> o amoroso,<br />

não poden<strong>do</strong> alcançar resposta de quantos escritos lhe enviava, que nunca aos<br />

príncipes faltam ministros que os sirvam no que afectuosos pretendem ain<strong>da</strong><br />

por extraordinárias vias, deliberou-se, pois de dia não podia vê-la, a ron<strong>da</strong>r de<br />

noite o sítio de suas casas e os muros <strong>do</strong> seu jardim, ou por desafogar o<br />

sentimento em ver o obelisco em que se encerrava sua maior tirania, ou por<br />

certificar-se se outro mais felice cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so a divertia. Lá disse o Séneca 932 que<br />

o variar de remédios na cura de um mal era o remédio menos idóneo para<br />

conseguir a saúde, sen<strong>do</strong> que Plínio 933 na mesma varie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />

medicamentos afirma consistir talvez o remédio <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença. Assim Raimun<strong>do</strong>,<br />

mal sofri<strong>do</strong> ao rigor de Fenisa, intentava variar de remédios por ver se variava<br />

de ventura.<br />

Ressentiu-se Fenisa <strong>da</strong> odiosa assistência de Raimun<strong>do</strong>, com que<br />

reconhecia de noite a quem pela rua <strong>da</strong>s casas de seu pai passava,<br />

amotivan<strong>do</strong> juízos ao decoroso de seu recato e escrupulosas conjecturas a seu<br />

crédito e ain<strong>da</strong> perigosos riscos à sua própria vi<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> a noite o luto de que<br />

se vestem as desgraças. Deu notícias a seus pais <strong>do</strong>s inquietos desvelos de<br />

Raimun<strong>do</strong>, com quem já seus irmãos sem o conhecerem se tinham de noite<br />

encontra<strong>do</strong> e ain<strong>da</strong> arrisca<strong>do</strong>. Louvaram seus pais em Fenisa o honroso desvio<br />

a tão arroja<strong>do</strong>s pensamentos de Raimun<strong>do</strong>, culpan<strong>do</strong>-o de inconsidera<strong>do</strong> nos<br />

intentos, seguin<strong>do</strong> as juvenis ousadias de seus anos, pois arriscava de noite<br />

disfarça<strong>do</strong> sua própria vi<strong>da</strong> aos desaires <strong>da</strong> fortuna. E porque já entrava a<br />

Senec, Ep. 2.<br />

Plin. Sénior, Lib. 29.

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