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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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894 Padre Mateus Ribeiro<br />

antípo<strong>da</strong>s e afectos tão distantes. Foi este dia de geral alegria para Cesena,<br />

que não é pouca ventura quan<strong>do</strong> o contentamento é geral. Depois de recebi<strong>do</strong>s<br />

foram para as nobres casas de Feliciano, aonde estava prepara<strong>do</strong> um<br />

esplêndi<strong>do</strong> banquete em que to<strong>do</strong>s os seus e nossos parentes assistiram; não<br />

faltou boa música que fizesse os manjares mais saborosos com o suave <strong>da</strong><br />

harmonia, iguaria sobre to<strong>da</strong>s a mais deliciosa. Com que aplauso tão diferente<br />

entrou minha irmã em casa de Feliciano neste dia ou na noite em que a levou<br />

furta<strong>da</strong>, desmaia<strong>da</strong> <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, com mais aparências de morta <strong>do</strong> que<br />

certeza de vi<strong>da</strong>! E <strong>do</strong> agravo que pudera ser origem <strong>da</strong> mais cruenta guerra,<br />

teve princípio a tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mais perseverante paz.<br />

Daí a oito dias, em que Lívia assistiu com minha mãe, tratou Roberto de<br />

voltar-se com ela para Bolonha para a sua quinta, porque ao presente não<br />

tinha gosto de assistir na ci<strong>da</strong>de, pelas passa<strong>da</strong>s inquietações de que se<br />

causaram tantos desgostos. Tratei de acompanhá-los nas alegrias, pois os<br />

tinha acompanha<strong>do</strong> nos pesares. Despediu-se ela de minha mãe e de Florisela<br />

com excessivas sau<strong>da</strong>des e particulares extremos de amizade, e nos partimos<br />

para Bolonha, man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> aviso diante a Mário Bentivolhe, tio de Roberto, para<br />

que viesse esperar-nos à quinta e a man<strong>da</strong>sse adereçar como era necessário.<br />

Tu<strong>do</strong> se aprestou, e quan<strong>do</strong> chegámos estava o nobre Mário com duas filhas<br />

na quinta esperan<strong>do</strong> por Lívia para a receberem, como com grande amor<br />

fizeram; e ouvin<strong>do</strong>-lhe referir a tragédia de sua fortuna e o papel de lavra<strong>do</strong>ra<br />

que nela tanto ao custoso de suas penas experimentara, o risco <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em<br />

que se viu com os ban<strong>do</strong>leiros e as lágrimas que na terra e no mar tinha<br />

derrama<strong>do</strong>, a acompanharam to<strong>do</strong>s nas lastimosas lágrimas de sentimento,<br />

ven<strong>do</strong> que uma moça tão fermosa e de tantas pren<strong>da</strong>s, sem causa <strong>da</strong> fortuna<br />

tão persegui<strong>da</strong> [fora]; e assi o discreto Mário, não sem lágrimas, disse a<br />

Roberto seu sobrinho assi:<br />

- Se <strong>do</strong>s males muitas vezes se tiram bens e <strong>do</strong>s trabalhos os lucros <strong>do</strong><br />

descanso, como disse Platão 871 , sen<strong>do</strong> no capitão o prémio <strong>do</strong>s bélicos riscos<br />

a vitória e no lavra<strong>do</strong>r os frutos que <strong>da</strong> molesta agricultura colhe, e sen<strong>do</strong>,<br />

como diz Plutarco 872 , o valor e a paciência o sujeito em que os trabalhos se<br />

Plat., De scient.<br />

Plut., De fort.

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