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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 923<br />

na Política, consiste talvez a vi<strong>da</strong> de uma monarquia em ter um príncipe vali<strong>do</strong>s<br />

confidentes e leais a quem comunique os acertos de suas ordens e o<br />

expediente de seus decretos. Via-se Manfre<strong>do</strong> assusta<strong>do</strong> com tal novi<strong>da</strong>de,<br />

aonde não podia resistir à vontade de um monarca de quem tinha recebi<strong>do</strong><br />

tantos favores e que o tratava como amigo, ao serviço <strong>do</strong> qual faltar não era<br />

decente, sen<strong>do</strong> seu senhor. Viu o risco que em vir Eurides à corte sua vi<strong>da</strong><br />

correr podia, sen<strong>do</strong> conheci<strong>da</strong> por sua singular fermosura, e pois via a<br />

Constâncio tão empenha<strong>do</strong> em sua assistência, quis discretamente empenhá-<br />

lo ao perdão: que ele se temia muito na corte de uma pessoa mui poderosa<br />

que dele se <strong>da</strong>va por ofendi<strong>da</strong>, de quem se sua majestade lhe assegurasse o<br />

não ser ofendi<strong>do</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe por seguro sua real palavra, ele prometia com<br />

casa mu<strong>da</strong><strong>da</strong> ficar enquanto vivesse assistin<strong>do</strong> sempre a seu serviço. Deu-lhe<br />

a palavra o empera<strong>do</strong>r de lhe haver o perdão de qualquer ofensa e de o<br />

defender com to<strong>do</strong> o seu poder de qualquer pessoa por mais poderosa que<br />

fosse, para que nenhum castigo ou vingança padecesse. Beijou-lhe Manfre<strong>do</strong> a<br />

mão por tanta mercê e ajoelhan<strong>do</strong>-se a seus pés com as lágrimas nos olhos,<br />

falou assim:<br />

- Tu só, invictíssimo senhor, podeis assegurar meus receios e serenar o<br />

proceloso mar de meus temores, porque tu só nesta vi<strong>da</strong> és o poderoso<br />

contrário de quem an<strong>da</strong>va fugitivo meu coração e que trazias em balança os<br />

instantes de minha vi<strong>da</strong>. Eu sou, poderoso monarca, o venturoso e infelice<br />

Manfre<strong>do</strong>, indigno esposo <strong>da</strong> princesa Eurides, tua filha, de quem no discurso<br />

de tantos anos tenho oito filhos e duas filhas, que são netos e poderosas valias<br />

para enternecerem tua clemência, impetran<strong>do</strong> dez inocentes o perdão para um<br />

pai culpa<strong>do</strong>. Grandes vitórias e imortais triunfos tem alcança<strong>do</strong> teu heróico<br />

valor que o mun<strong>do</strong> aplaude e a fama coroa; porém hoje este perdão será de<br />

tuas vitórias a mais ilustre e de teus triunfos o mais glorioso, chegan<strong>do</strong> a<br />

vencer-te a ti para seres em tu<strong>do</strong> invencível; porque o vencer inimigos com as<br />

armas não excede os limites de ser acção humana, porém o per<strong>do</strong>ar ofensas é<br />

acção tão imita<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de divina que até o poeta Ovídio 924 a decantou em<br />

seus versos como tal, sen<strong>do</strong> as culpas o objecto <strong>da</strong> clemência que per<strong>do</strong>an<strong>do</strong>-<br />

as se manifeste seu valor.<br />

Ovid., 3. De Pont.

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