17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 327<br />

em que to<strong>do</strong>s estávamos enlaça<strong>do</strong>s. Um dia, pois que, levanta<strong>da</strong>s as mesas,<br />

estávamos to<strong>do</strong>s em uma quadra que com espaçosas janelas sobre o ameno<br />

de um jardim caía, logran<strong>do</strong> <strong>do</strong> recreio <strong>da</strong> vista agradável e suaves aromas de<br />

suas flores, entrou a visitar-nos o confessor de sua alteza, que era um grave e<br />

<strong>do</strong>uto religioso, que depois de praticar em várias matérias, disse a meu pai<br />

desta sorte:<br />

Cap. XXI.<br />

Do que se tratou sobre Juliano<br />

- Se o justo sentimento de vosso agravo me permitira, senhor,<br />

interceder por Juliano, não deixara de mostrar-vos que não há queixa tão<br />

magoa<strong>da</strong> que não possa permitir algum alívio, nem delito tão odioso que de<br />

to<strong>do</strong> careça de desculpa. Confesso que Juliano em tu<strong>do</strong> obrou como cego e só<br />

em o empenho que amou se mostrou ajuiza<strong>do</strong>; pois teve tão discreto gosto que<br />

como abelha não só deixan<strong>do</strong> as plantas buscou as flores, mas ain<strong>da</strong> destas<br />

escolheu a mais bela: na singular fermosura <strong>da</strong> senhora Lucin<strong>da</strong> foi seu amor<br />

tão gigante nas finezas como o objecto que amava nos <strong>do</strong>tes e méritos para<br />

ser ama<strong>da</strong>. Solicitou com to<strong>da</strong>s as veras que o admitisse por esposo, como vós<br />

confessais, era fi<strong>da</strong>lgo no sangue, mancebo na i<strong>da</strong>de, galã na pessoa, capitão<br />

no cargo, militar na experiência de tantos anos que tinha exercita<strong>do</strong> as armas,<br />

aceito ao vice-rei, pois se havia cria<strong>do</strong> em sua casa, rico de amigos, bem quisto<br />

de to<strong>do</strong>s, amante com extremos; e sen<strong>do</strong> merece<strong>do</strong>r <strong>da</strong> melhor ventura, não foi<br />

admiti<strong>do</strong>. Pois que maravilha é que amante e desengana<strong>do</strong> se mostrasse<br />

arroja<strong>do</strong>?<br />

Emprendeu o fim e errou na eleição <strong>do</strong>s meios. Que muito que errasse,<br />

pintan<strong>do</strong>-se amor cego e <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe Quintiliano 327 esse título! Perguntemos a<br />

Paris por que roubou Helena? A Antíoco por que amou a Estratocínia, sen<strong>do</strong><br />

mulher de seu pai Seleuco? A Marco António por que se perdeu por Cleópatra,<br />

deixan<strong>do</strong> a sua esposa, irmã de Agostinho? A Aristodemo, tirano de Cumas,<br />

Quintil., Lib. 6.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!