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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 907<br />

tinha, com que alcancei entra<strong>da</strong> em sua casa para buscá-los em qualquer<br />

tempo. Com esta familiar comunicação que com seus familiares tinha se<br />

ocasionava tal vez o poder ver a Fenisa, ain<strong>da</strong> que de passagem, que era meu<br />

transitório recreio e o melhor estu<strong>do</strong> em que se desvelavam meus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

Conheci eu que Constantino algumas vezes sobre prática que com ela e seus<br />

pais tinha lhes referia algumas acções minhas, o muito respeito que to<strong>do</strong>s me<br />

guar<strong>da</strong>vam, o liberal que me mostrava, o alenta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> na ocasião o<br />

pediam, o séquito grande que tinha, sen<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s afável e cortês, e outros<br />

encarecimentos, parte <strong>do</strong> que via e parte <strong>do</strong> que ouvia contar a outros <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de. Estas relações na presença de Fenisa e estes louvores faziam<br />

que em mim reparasse com algum cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, não de afeição, mas de<br />

curiosi<strong>da</strong>de: acção natural em mulheres, que ten<strong>do</strong> as raízes no nativo recato,<br />

querem desenganar-se com a vista <strong>do</strong> mesmo que ouvem, quan<strong>do</strong> na<strong>da</strong> lhes<br />

importa mais que a novi<strong>da</strong>de de conhecer se condizem as relações com o<br />

sujeito de quem se dizem. Por essa razão Platão 886 a man<strong>da</strong> evitar e<br />

Plutarco 887 lhe chama inútil, Euripides 888 perniciosa e Cícero 889 molesta.<br />

Desta curiosi<strong>da</strong>de nascia que muitas vezes in<strong>do</strong> eu buscar a<br />

Constantino a sua casa pudesse Fenisa ver-me sem ser de mim vista, valen<strong>do</strong>-<br />

se <strong>do</strong> recato de poder desenganar o desejo sem que pudesse eu conhecer que<br />

ela me via, porque sabia disfarçar o curioso com o recata<strong>do</strong>. Entre as pessoas<br />

que em sua casa assistiam era um mestre em Artes, que se chamava Adriano,<br />

homem mui perito e que em Nápoles haven<strong>do</strong> cursa<strong>do</strong> alguns anos o Direito,<br />

por vários desvios <strong>da</strong> fortuna saiu de sua pátria e depois de vários sucessos se<br />

veio a acomo<strong>da</strong>r com Frederico para ser mestre de Constantino, seu filho, a<br />

quem repetia as lições, explican<strong>do</strong> as dificul<strong>da</strong>des delas. Era Adriano bem<br />

<strong>do</strong>uto e versa<strong>do</strong> nas histórias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e a quem Frederico sabia estimar no<br />

muito que merecia; pois o poder ensinar é, como diz Aristóteles 890 , exame<br />

aprova<strong>do</strong> <strong>do</strong> saber. E aquele, diz Valério Máximo 891 , é mais rico de sabe<strong>do</strong>ria<br />

886 Plat., Depulchri.<br />

887 Plutarch., De curiosit.<br />

888 Eu ri p., Hyppol.<br />

889 Cicer., in Laeli.<br />

890 Arist., Metaph. 1.<br />

891 Valer. Max., Lib. 6.

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