17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1036 Padre Mateus Ribeiro<br />

Euripides 1125 , maior pena que sofrer a uma mulher de cuja leal<strong>da</strong>de não pode<br />

viver seguro e confia<strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>. Pois que confianças poderia eu ter de<br />

quem, deixan<strong>do</strong>-me a mim, se empenhou com tantas veras em amar a outro?<br />

De quem, esqueci<strong>da</strong> <strong>do</strong>s desvelos que me devia, chegou por outro a desvelar-<br />

se? Confiaria eu que as memórias de Hortênsio que ao presente lhe assistem,<br />

ao diante lhe não lembrassem? São os hábitos, como diz Aristóteles 1126 ,<br />

quali<strong>da</strong>des de difícil expulsão por serem como alunos <strong>da</strong> natureza, como o<br />

mesmo filósofo o confirma no segun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Físicos 1127 ; e como hoje Doroteia<br />

está tão habitua<strong>da</strong> a amar a Hortênsio e tão obriga<strong>da</strong> ao obsequioso de seus<br />

galanteios e serviços, quem poderia assegurar-me que quan<strong>do</strong> sucedesse o<br />

ser minha esposa, arrancaria tão facilmente <strong>da</strong> memória as lembranças que<br />

hoje a trazem tão obsequiosa a quem menos obrigações devia? Ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong><br />

Hortênsio vivera desta ci<strong>da</strong>de ausente, pudera a distância <strong>da</strong>r um fia<strong>do</strong>r à<br />

desconfiança de meus receios, se bem não de to<strong>do</strong> seguro, ao menos de<br />

diversão ao incessável escrúpulo de meus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s; porém estan<strong>do</strong> presente<br />

não só para ver a Doroteia, mas juntamente para poder ser dela visto, sen<strong>do</strong><br />

rico, galã e tão estima<strong>do</strong>, poderia <strong>do</strong>rmir descansa<strong>do</strong> meu coração ou<br />

suspender as armas meu cioso receio? Viveria nas presenças com sustos e<br />

nas ausências com inquietos sobressaltos, duvi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> de minha ventura por ter<br />

hoje certezas <strong>do</strong> muito que Doroteia por Hortênsio se mostra desvela<strong>da</strong>. Assim<br />

que, Lisar<strong>do</strong> amigo, esse conselho que em outro tempo pudera ser meu<br />

remédio, na ocasião presente só seria meu tormento, porque é hoje tão<br />

perseverante minha queixa como meu agravo e minha mágoa como minha<br />

ofensa.<br />

- Aprovo, Bonifácio, vosso parecer (disse eu), porque é discurso de<br />

vosso bom juízo, sen<strong>do</strong> assi que não seria empenho dificultoso mu<strong>da</strong>r Doroteia<br />

os pensamentos se convosco casa<strong>da</strong> se vira; pois quem vos deixou por outro<br />

tão facilmente, também saberia deixar a outro por vós, se fora esposa vossa,<br />

antepon<strong>do</strong> a obrigação presente ao desvelo passa<strong>do</strong>. Porém que importa o<br />

mu<strong>da</strong>r ela de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, se vós não mudáveis <strong>da</strong> desconfiança? E por muito que<br />

Eurip., in Alces.<br />

Arist., Rhet. 1.<br />

Phisic. 2.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!