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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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266 Padre Mateus Ribeiro<br />

quais, encaran<strong>do</strong> as clavinas e espingar<strong>da</strong>s, nos disseram com vozes<br />

ameaça<strong>do</strong>ras que nenhum de nós fizesse movimento, se não queríamos to<strong>do</strong>s<br />

perder as vi<strong>da</strong>s.<br />

Seriam os ban<strong>do</strong>leiros perto de trinta, to<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s de couras, pistolas<br />

nas cintas, clavinas ou espingar<strong>da</strong>s nas mãos, e to<strong>do</strong>s tão mal assombra<strong>do</strong>s<br />

como o exercício de suas vi<strong>da</strong>s. Perguntou-lhes o capitão lhe dissessem o<br />

nome de quem os governava, e eles responderam chamar-se Frederico, a<br />

quem, respondeu, nos renderíamos se presente estava.<br />

- Não está presente (disse o ban<strong>do</strong>leiro) que com outra esquadra fica na<br />

volta desta montanha.<br />

- Pois sede, senhor, servi<strong>do</strong>, replicou o capitão, de nos levardes diante<br />

dele; e porque esta minha filha vem indisposta, me concedei favor de que eu a<br />

leve nas ancas <strong>do</strong> cavalo, porque não lhe será possível caminhar de outra<br />

sorte.<br />

- Seja assim (disse o ban<strong>do</strong>leiro).<br />

E man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> aos outros nos despojassem <strong>da</strong>s armas que tínhamos e<br />

trouxessem os cavalos <strong>da</strong>s rédeas, montan<strong>do</strong> só o capitão em o seu e<br />

acomo<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nas ancas dele a Eugenia, a quem o sobressalto tinha<br />

embarga<strong>do</strong> a voz e a pena desata<strong>da</strong>s as lágrimas para testemunhas de seu<br />

sentimento, cerca<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ban<strong>do</strong>leiros, quan<strong>do</strong> já a lua reforçava os<br />

resplan<strong>do</strong>res, servin<strong>do</strong>-nos de guias os que temíamos verdugos, começámos a<br />

caminhar pelo deserto de um vale, a quem cercavam levanta<strong>do</strong>s montes que<br />

com os raios <strong>da</strong> lua já se conheciam.<br />

To<strong>do</strong>s calavam; mas que maravilha, se a uns emudecia o temor e os<br />

outros com os despojos <strong>da</strong> presa que já se prometiam, a ambição com que<br />

caminhavam se juntamente não fosse para causarem maior pavor, que a pouca<br />

afabili<strong>da</strong>de atemoriza e a conversação dá desconfianças.<br />

Com silêncio, como digo, caminhávamos, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> vários rodeios ao<br />

monte, sempre por estra<strong>da</strong>s embosca<strong>da</strong>s e caminhos encobertos, fecha<strong>do</strong>s de<br />

arvore<strong>do</strong>, que só a quem frequentava tão repeti<strong>da</strong>mente seus retiros podiam<br />

ser manifestos. Passa<strong>do</strong> era dilata<strong>do</strong> espaço <strong>da</strong> noite, para nós a mais penosa<br />

que jamais tivemos; queria já a lua, desmaian<strong>do</strong> os resplan<strong>do</strong>res de seu<br />

pequeno círculo, <strong>da</strong>r lugar a que os primeiros assaltos <strong>da</strong> aurora <strong>da</strong><br />

embosca<strong>da</strong> <strong>do</strong> horizonte se descobrissem, quan<strong>do</strong> avistámos uma confusa luz

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