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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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306 Padre Mateus Ribeiro<br />

ao porto de Liorne, que era breve distância, para aí convalecer <strong>da</strong>s moléstias<br />

<strong>do</strong> mar e discómo<strong>do</strong>s passa<strong>do</strong>s, e depois ir por terra a Nápoles, escreven<strong>do</strong> à<br />

mãe <strong>da</strong> senhora Lucin<strong>da</strong> to<strong>do</strong> o sucesso passa<strong>do</strong> desde que partiu nas galés.<br />

Grande alegria recebi eu e to<strong>do</strong>s os que presentes estávamos com tão<br />

felices novas, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a Leonar<strong>do</strong> as devi<strong>da</strong>s graças de haver si<strong>do</strong> o anúncio<br />

delas, livran<strong>do</strong>-nos de tantos sustos e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s quantos tinha, sen<strong>do</strong> em tantos<br />

dias. Determina<strong>do</strong> logo em Alexandre se receben<strong>do</strong> de me partir a Liorne a ver<br />

a meu pai e irmã e trazê-los por Roma para verem suas antigas maravilhas; e<br />

assim com este alvoroço lhe perguntei o que sucedeu às galés até chegarem a<br />

Nápoles e o que fez o vice-rei sobre o sucedi<strong>do</strong>. Ao que Leonar<strong>do</strong> continuou<br />

com sua relação, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Partimos de Córsega com tempo favorável e passan<strong>do</strong> Sardenha nos<br />

engolfámos alguma distância para virmos a abreviar a jorna<strong>da</strong>, porque nos<br />

aju<strong>da</strong>va o vento; porém ao outro dia se nos voltou contrário de mo<strong>do</strong> que<br />

tornámos a descair <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> à vista de Sardenha e fomos corren<strong>do</strong> com<br />

tempo tão rigoroso que, por não ser outra cousa possível, chegámos a avistar<br />

Génova. Ancorámos no porto <strong>do</strong>us dias sem podermos sair. Neste tempo<br />

deram novas ao general como Juliano havia três dias não comia nem a pessoa<br />

alguma falava, estan<strong>do</strong> com uma tristeza tão profun<strong>da</strong> que parece que ao rigor<br />

dela intentava acabar a vi<strong>da</strong>. Pediu o general a um <strong>do</strong>uto padre que ia por<br />

capelão <strong>da</strong> galé real, pessoa discreta e de to<strong>do</strong>s mui respeita<strong>do</strong>, quisesse ir<br />

abaixo a falar com ele para diverti-lo <strong>da</strong> melancolia e fazer que comesse, e não<br />

quisesse acabar barbaramente a vi<strong>da</strong>. Assim o fez o capelão, por fazer a Deus<br />

esse serviço e <strong>da</strong>r gosto ao general que lho pedia, e eu fui em sua companhia<br />

por ver o que nisto passava e juntamente porque em Nápoles tinha si<strong>do</strong> amigo<br />

de Juliano. Descemos à camera em que estava preso com grilhões nos pés,<br />

ordem especial que o vice-rei ao general, quan<strong>do</strong> partiu, tinha <strong>da</strong><strong>do</strong>, e<br />

sau<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-o cortesmente lhe disse o capelão, depois de nos sentarmos junto<br />

dele, assim:<br />

- Com a conversação, senhor Juliano, se curam, como diz Plutarco 311 ,<br />

muitas vezes as enfermi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> alma, que são suas veementes paixões, e<br />

como esta tão profun<strong>da</strong> tristeza com que vos vejo seja incentivo tão eficaz para<br />

311 Polit.

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