17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 231<br />

lanço <strong>da</strong> prudência e satisfazê-los desempenho <strong>da</strong> valentia: arrojos <strong>da</strong> paixão<br />

nunca foram louva<strong>do</strong>s, e assim antes de obrar a ira, dêmos lugar à razão, que<br />

quan<strong>do</strong> esta não possa satisfazer-se menos que com o sangue, em lugar<br />

estamos para deixar-vos desagrava<strong>do</strong>s e, se a causa o permite, satisfeito.<br />

- Devo à vossa cortesia (disse Alexandre), senhor D. Sancho, tantos<br />

respeitos além <strong>do</strong>s que merece vossa pessoa, que me obrigam a referir-vos a<br />

justa causa de meu agravo. O senhor Dionísio Montal<strong>do</strong>, que está presente,<br />

inquietou a minha irmã Anastácia e a gozou com promessa de casamento,<br />

conhecen<strong>do</strong> minha nobreza e desprezan<strong>do</strong> os respeitos e decoro que a casa<br />

de meu pai se deviam, e dizem trata de casar-se em outra parte, não temen<strong>do</strong><br />

o castigo que Deus pode <strong>da</strong>r-lhe pelo engano e o que eu posso na terra <strong>da</strong>r-lhe<br />

pelo agravo. Ain<strong>da</strong> hoje me descobriu Anastácia com mais lágrimas que<br />

palavras esta tragédia de sua honra e este eclipse <strong>da</strong>s luzes de meus<br />

antepassa<strong>do</strong>s; que sempre um ofendi<strong>do</strong> é o último que sabe seu descrédito<br />

para senti-lo a tempo, que não foi poderoso para evitá-lo. Atreve-se a profanar<br />

o sagra<strong>do</strong> <strong>da</strong> fi<strong>da</strong>lguia, só pode ter desculpa na loucura, porque não diferençar<br />

o luzi<strong>do</strong> <strong>do</strong> escuro, o altivo <strong>do</strong> humilde, o decoroso <strong>do</strong> vulgar, ou é erro de<br />

quem se cega, ou arrojo de quem delira, pois haven<strong>do</strong>-me ofendi<strong>do</strong> quem<br />

devia respeitar-me, impossível era assegurar-se vivo enquanto não me visse<br />

morto; e ain<strong>da</strong> depois de minha morte, parentes tenho que pudessem vingar o<br />

labéu de sua ofensa e a per<strong>da</strong> de minha vi<strong>da</strong>. Esta é, senhor Dom Sancho, a<br />

causa de trazer ao senhor Dionísio a este lugar, para que ou seu sangue lave<br />

as manchas de minha honra perdi<strong>da</strong>, ou minha morte sirva de fim a meu<br />

sentimento; que a um honra<strong>do</strong> ofendi<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> é tormento e a morte alívio.<br />

Deu fim Alexandre ao justo de sua queixa, mas não ao intenso de sua<br />

mágoa, de que admira<strong>do</strong> o espanhol perguntou a Dionísio que satisfação tinha<br />

que <strong>da</strong>r a uma culpa tão indigna de caber em honra<strong>do</strong> peito; ao que o genovês<br />

respondeu que o senhor Alexandre estava mal informa<strong>do</strong> no crime que lhe<br />

arguia, porque ele nunca vira a senhora Anastácia sua irmã, nem lhe devia o<br />

mais pequeno favor, pois quan<strong>do</strong> ele os pertendesse alcançar dela, seria para<br />

honrar-se em casar com ela e não para enganá-la, nem desacreditar o luzi<strong>do</strong><br />

de sua fama, e que se ela outra cousa dizia não falava o certo.<br />

- Pois poderei eu persuadir-me (disse Dom Sancho) que essa senhora,<br />

sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>nzela e tão bem naci<strong>da</strong>, houvesse de pôr sobre seu crédito uma falta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!