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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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950 Padre Mateus Ribeiro<br />

costumava mostrar. Contu<strong>do</strong> discursou um intervalo breve, que a pena não<br />

permite demoras largas sobre o que o coração padece, e fazen<strong>do</strong> neste<br />

espaço tréguas o coração com o discurso, lhe respondeu desta sorte:<br />

- Ouvi, Bernardino, os acertos de vosso juízo em que mostrais vossa<br />

leal<strong>da</strong>de e discrição. Quanto estimara eu poder aproveitar-me de vossos<br />

prudentes conselhos, assim como conheço o zelo com que mos <strong>da</strong>is. Porém<br />

esta incessável pena que me assiste, estas memórias que me não largam e<br />

estas sau<strong>da</strong>des que me atormentam são tão molestas a meu coração que sou<br />

sábio para conhecê-las e idiota para declará-las. Bem desejara eu poder dever<br />

mais a meu descui<strong>do</strong> <strong>do</strong> que a meu cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, porque o descui<strong>do</strong> seria meu<br />

alívio, quan<strong>do</strong> é o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> meu tormento. Envi<strong>do</strong>u to<strong>do</strong> o cabe<strong>da</strong>l meu<br />

sofrimento por ver se podia ganhar por sofri<strong>do</strong>, e ca<strong>da</strong> vez saí mais perdi<strong>do</strong>so:<br />

porque como nasceu meu cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de uma causa tão sublime, que não posso<br />

aborrecê-la por mais que me maltrata, não acho meio de que me valha entre os<br />

extremos de amá-la ou aborrecê-la, porque se a tirania a faz odiosa, a<br />

fermosura singular a faz amável; e assim sempre de mi é ama<strong>da</strong> e nunca<br />

aborreci<strong>da</strong>.<br />

Eu me resolvo em voltar-me outra vez a Módena e por hora pôr<br />

suspensão à oferta de ser seu esposo, que são os <strong>do</strong>us assuntos de vosso<br />

conselho. Mas haveis de prometer-me de irdes vós a Bolonha a saberdes com<br />

to<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> novas de Fenisa e certificardes-vos em que se diverte, se há<br />

outro que seja mais venturoso em ser aceito a seus olhos e se porventura vive<br />

em suas memórias minha lembrança. E se é atributo nas mulheres a mu<strong>da</strong>nça,<br />

como lhe chama Virgílio 959 e a Glossa <strong>do</strong> Direito Civil 960 , se como planta de<br />

novo em Bolonha transplanta<strong>da</strong> fez mu<strong>da</strong>nça sua condição no desabrimento <strong>da</strong><br />

ingratidão e esquivança que sempre para mim manifestou, vede se podeis por<br />

alguma via falar-lhe e manifestar as sau<strong>da</strong>des que padeço, as finezas com que<br />

a amo; que se ela bem as conhecera, porventura se mostrara menos esquiva.<br />

Isto confio de vós como de fiel amigo a quem só descobri os secretos de meu<br />

peito, que de outro não confiara ain<strong>da</strong> que a vi<strong>da</strong> perdera.<br />

Gloss. In c. For. de verb, signif.

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