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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 207<br />

mim mais queri<strong>da</strong> com tanta desleal<strong>da</strong>de agrava<strong>do</strong>, e em tão breves dias de<br />

alegre ver-me de repente conduzi<strong>do</strong> a tal extremo que viva sempre triste, por<br />

mais que quero consolar-me, a <strong>do</strong>r não me deixa, o sentimento mo não<br />

permite.<br />

- Não é este o maior motivo dele (respondeu o Ermitão), porque quanto<br />

à duração <strong>da</strong>s alegrias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, maior admiração fora serem duráveis que em<br />

tão breve tempo desaparecerem. Lá disse o Séneca 272 discretamente que em<br />

tão breve tempo podia o senhor considerar a seu escravo cativo como,<br />

mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se a sorte, o servo considerar cativo a seu senhor. Brevíssima<br />

duração atribui Cícero aos contentamentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como a água que corre,<br />

como o vento que voa. Opinião foi de Tito Lívio 273 que uma hora de duração<br />

nas delícias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> era i<strong>da</strong>de decrépita para arruinar talvez as cousas mais<br />

altivas e que se avaliavam por mais seguras. Princípio <strong>da</strong>s tristezas chamou<br />

Ovídio 274 às lágrimas cuja duração, haven<strong>do</strong> de regular-se por serem<br />

contentamentos de humana vi<strong>da</strong> e felici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, o termo mais breve lhe<br />

fica servin<strong>do</strong> de dilata<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Que rosa quan<strong>do</strong> mais purpuriza<strong>da</strong> manifestou<br />

nas primeiras luzes <strong>da</strong> manhã, nas meninices <strong>do</strong> dia a encarna<strong>da</strong> esfera de<br />

suas aljofra<strong>da</strong>s folhas? Que flor por mais airosa começou a fazer gala de seus<br />

matizes que juntamente não seguisse as luzes <strong>do</strong> sol, quan<strong>do</strong> se esconde, com<br />

desanimar as vivas cores em que se revia? A tão pouca duração, a tão<br />

abrevia<strong>do</strong> termo mal se podem atribuir permanências quan<strong>do</strong> faltam os<br />

contentamentos passa<strong>do</strong>s que a muitos desaparecerão não logra<strong>do</strong>s.<br />

O serdes ofendi<strong>do</strong> <strong>da</strong> cousa mais ama<strong>da</strong> pensão é <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana e<br />

desengano que permite a Providência Divina, que esse í<strong>do</strong>lo de vossos<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s vos ofendesse para que desengana<strong>do</strong> vosso amor de to<strong>do</strong> o humano,<br />

somente se empregasse no Divino. E se tanto ain<strong>da</strong> vos inquietam memórias<br />

de quem vos agrava, a que precipícios vos não conduziam finezas de quem<br />

vos amara? Que por ventura extremos de afeição vos podiam ocasionar por<br />

seu respeito grande ruína. Quantos por excesso de amor se condenaram e<br />

quantos por ofensas recebi<strong>da</strong>s se não perderam? As ocultas vozes com que<br />

Séneca, Epist. 2.<br />

Tit. Liv., L. 3. Dec.<br />

Ovid., Metamor. 7.

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