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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 343<br />

diz S. Gregório Papa , não sei que admitissem paralelos em minha mãe seus<br />

amorosos desejos, nem me é possível referir as alegrias, porque só podiam<br />

pesar-se na própria balança <strong>do</strong>s sentimentos; pois os contrários à vista <strong>do</strong>s<br />

outros mais se manifestam. Aprovou minha mãe o casamento de Lucin<strong>da</strong> por<br />

satisfazer ao gosto <strong>do</strong> grão-duque e intercessão <strong>do</strong> conde Hipólito, que ao<br />

outro dia depois de nossa chega<strong>da</strong> partiu com meu pai a Nápoles.<br />

A nova de sua chega<strong>da</strong> deu sustos às esperanças e rebates aos<br />

temores de Juliano. Pois nunca se pode chamar felice quem aos sustos de um<br />

perigo vive. Divulgou-se o <strong>caso</strong>, dividiu-se em pareceres o povo, sentencian<strong>do</strong><br />

a Juliano a vários castigos com a presença de meu pai e de Lucin<strong>da</strong>; mas<br />

enfim to<strong>do</strong>s se enganaram, porque sem embargo <strong>da</strong> condição <strong>do</strong> vice-rei ser<br />

tão severa na execução <strong>da</strong> justiça, obedecen<strong>do</strong> ao gosto de um tal príncipe, e<br />

que estava destina<strong>do</strong> para ser seu genro, e com o perdão de meu pai e<br />

consentimento de Lucin<strong>da</strong> no casamento, em poucos dias saiu Juliano <strong>da</strong><br />

prisão, vesti<strong>do</strong> de ricas galas e acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong> lustroso <strong>da</strong> corte, depois de ir<br />

<strong>da</strong>r as graças ao vice-rei <strong>da</strong> mercê que lhe havia feito, a receber-se com<br />

Lucin<strong>da</strong> com invejas de muitos de o verem tão venturoso, depois de o terem<br />

visto tão desgraça<strong>do</strong>. Muitos lhe pronosticavam pouca duração a tantas<br />

felici<strong>da</strong>des; porque às venturas excessivas sua própria grandeza lhes serve de<br />

peso que as arruina.<br />

Celebraram-se, como digo, as bo<strong>da</strong>s com to<strong>da</strong> a grandeza, muitos<br />

parabéns e não menos invejas; que limita<strong>da</strong> seria a sorte, quan<strong>do</strong> não fosse<br />

inveja<strong>da</strong>. Deu-se-me perdão <strong>da</strong> fugi<strong>da</strong>, fui visita<strong>do</strong> de amigos, e ven<strong>do</strong> as<br />

cousas de nossa casa quietas, como as memórias de Laura viviam em mim tão<br />

presentes que me suspendiam as alegrias e mas pagavam em cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s:<br />

comércio bem desigual <strong>da</strong>r desvelos por prazeres e inquietações por alívios;<br />

pedi licença a meu pai para acompanhar ao conde, que já preparava a parti<strong>da</strong><br />

para Florença, para <strong>da</strong>r ao duque as graças <strong>da</strong> mercê que nos havia feito; e<br />

juntamente pedin<strong>do</strong> a Lucin<strong>da</strong> que escrevesse a Laura para de caminho visitá-<br />

la como lhe prometera. Quis também Dionísio Montal<strong>do</strong> acompanhar-nos até<br />

Roma para ver Alexandre, seu cunha<strong>do</strong>, e a Eugenia; e assim bem<br />

acompanha<strong>do</strong>s, saímos de Nápoles quan<strong>do</strong> o morga<strong>do</strong> <strong>da</strong>s luzes na espaçosa<br />

S. Greg. P., Homil. 23.

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