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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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298 Padre Mateus Ribeiro<br />

revela<strong>do</strong> por um anjo que era semelhante a um pobre que tangen<strong>do</strong> uma viola<br />

e cantan<strong>do</strong> a ela pelas portas <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Heraclea, situa<strong>da</strong><br />

nos confins <strong>do</strong> deserto, nas raízes <strong>do</strong> monte Tauro, sustentava a vi<strong>da</strong>.<br />

Admira<strong>do</strong> o santo abade <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de de tal revelação se partiu para a ci<strong>da</strong>de e<br />

achan<strong>do</strong> ao pobre tange<strong>do</strong>r que lhe foi revela<strong>do</strong>, chaman<strong>do</strong>-o à parte, lhe<br />

perguntou quem era e que vi<strong>da</strong> tivera. Ele lhe respondeu que ban<strong>do</strong>leiro,<br />

saltea<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s e terror <strong>do</strong>s passageiros a quem roubava, e combati<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> temor <strong>da</strong> justiça e castigo que por seus delitos receava, deixan<strong>do</strong> os montes<br />

e charnecas em que os roubos e salteamentos cometia se retirara ao povoa<strong>do</strong>,<br />

valen<strong>do</strong>-se <strong>da</strong>quele instrumento que tangia para ganhar o sustento com que<br />

passar a vi<strong>da</strong>. Admira<strong>do</strong> o santo lhe perguntou se havia feito alguma boa obra<br />

em sua vi<strong>da</strong>. Ao que o pobre respondeu que só lhe lembrava que rouban<strong>do</strong> ele<br />

com seus companheiros de um mosteiro de freiras a uma religiosa e queren<strong>do</strong><br />

os outros violar sua pureza ele o não consentira, antes de noite secretamente a<br />

tornara a levar ao seu convento sem lhe fazer ofensa alguma. E também lhe<br />

lembrava que em outra ocasião achan<strong>do</strong> no deserto a uma mulher que aflita<br />

caminhava sem saber por onde, e perguntan<strong>do</strong>-lhe para que parte ia e que<br />

pena a molestava, dizen<strong>do</strong> ela que ficavam seu mari<strong>do</strong> e filhos presos por<br />

dívi<strong>da</strong>s a el-rei e a ela a queriam também prender se não fugira e havia três<br />

dias que com esta aflição caminhava sem ter comi<strong>do</strong>, ele movi<strong>do</strong> a compaixão<br />

a levara à sua cova, onde lhe deu de comer e lhe dera trezentos sol<strong>do</strong>s com<br />

que a pobre mulher pagou as dívi<strong>da</strong>s e resgatou a seu mari<strong>do</strong> e filhos <strong>da</strong> prisão<br />

rigorosa em que estavam.<br />

Ouvin<strong>do</strong> isto o santo abade chorou, dizen<strong>do</strong> que em tantos anos de<br />

anacoreta no deserto não tinha feito obras de tanta cari<strong>da</strong>de como as deste<br />

pobre, e contan<strong>do</strong>-lhe a revelação que dele tivera, o levou ao mosteiro e<br />

deitan<strong>do</strong>-lhe o hábito acabou nele em obras de virtude santamente.<br />

Referiu-lhe também, como se escreve na Vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> abade Daniel que<br />

an<strong>da</strong> nas Vi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s Padres, que haven<strong>do</strong> gasta<strong>do</strong> o melhor de seus anos em<br />

roubar os passageiros no desertos de Hermopolis, que entre o rio Nilo e os<br />

montes de Líbia está situa<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> capitão de uma quadrilha de trinta<br />

ban<strong>do</strong>leiros foi um dia a um mosteiro de monges que no deserto estava,<br />

pedin<strong>do</strong>-lhe lhe dessem o hábito porque queria ser monge. O que negan<strong>do</strong> o<br />

abade e mais monges fazer, porque haviam conheci<strong>do</strong> o escan<strong>da</strong>loso de sua

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