17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 345<br />

em alcançá-la por esposa e o senhor conde cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so de alcançar-me essa<br />

ventura. Carlos Savello pode avantajar-me na sorte, mas não no merecimento,<br />

nem em saber estimar o valor <strong>da</strong> pren<strong>da</strong> que lava. Competiu meu amor com<br />

sua ventura e, sen<strong>do</strong> este maior, ficou venci<strong>do</strong>, porque a ventura tu<strong>do</strong> vence.<br />

Vossa mercê, senhora Laura, se logre felices anos e me dê licença para partir-<br />

me, que basta que eu padeça meus próprios pezares, sem que seja<br />

testemunha de glórias alheias.<br />

O que Laura respondeu:<br />

- Eu, senhor Felisberto, ain<strong>da</strong> não estou jura<strong>da</strong>, nem recebi<strong>da</strong>, nem<br />

minha mãe há-de querer violentar-me a vontade para eu casar a desgosto de<br />

minha eleição. Se o senhor conde estava empenha<strong>do</strong> em vossa mercê ser meu<br />

esposo, basta ser vossa mercê irmão de minha amiga Lucin<strong>da</strong> para que eu me<br />

tenha por venturosa em alcançar cousas suas.<br />

Savello?<br />

Ao que replicou a mãe:<br />

- E como ficará minha palavra acredita<strong>da</strong>, esperan<strong>do</strong> hoje a Carlos<br />

- Fique isso por nossa conta (disse o conde), que a senhora Laura fica<br />

ganhan<strong>do</strong> e na<strong>da</strong> na mu<strong>da</strong>nça perden<strong>do</strong>.<br />

Maravilha foi não matar-me a alegria; que passar de um extremo ao<br />

outro é a estra<strong>da</strong> mais certa <strong>do</strong> perigo. Juramo-nos logo com excessivo<br />

contentamento, esperan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> chegaria Carlos Savello, que não veio esse<br />

dia; que sempre as dilações foram madrastas <strong>da</strong> ventura. Bem disse<br />

Euripides 346 que Marte aborrecia os vagares. Nunca o grande Alexandre deixou<br />

para amanhã o que podia avançar hoje: e com esta celeri<strong>da</strong>de venceu o<br />

mun<strong>do</strong>. Quer a fortuna, como escreve Ovídio, que se solicitem seus favores<br />

com to<strong>da</strong> a brevi<strong>da</strong>de, porque sempre vai de passagem quan<strong>do</strong> os distribui. Ao<br />

que parece aludiu Lucano 347 quan<strong>do</strong> disse que sempre as demoras malogram<br />

os desejos.<br />

Apenas as aves com seu canto deram o primeiro anúncio de se<br />

avizinhar a alegria <strong>da</strong>s auroras radiantes <strong>do</strong> dia, quan<strong>do</strong> com parecer <strong>do</strong> conde<br />

nos resolvemos a partir to<strong>do</strong>s para Roma, não queren<strong>do</strong> esperar a chega<strong>da</strong> de<br />

Eurip., in Hec. Fur.<br />

Lucan., Lib. 1.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!