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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 371<br />

<strong>da</strong>va vozes com os passos. Mostrava no semblante pouca alegria que se,<br />

como disse Platão, a <strong>do</strong>r que assiste no coração logo se manifesta no rosto,<br />

sen<strong>do</strong> este como relógio mostra<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s paixões que como ro<strong>da</strong>s se movem<br />

dentro, bem se descobria nos pesares que mostrava o peso <strong>do</strong> sentimento que<br />

na alma tinha.<br />

Ao entrarem pelo denso <strong>do</strong> sombrio bosque, a quem já os retiros <strong>do</strong> sol<br />

faziam mais solitário, voltan<strong>do</strong> os olhos atrás, me fez sinal com a mão que a<br />

seguisse, de que fiquei suspenso, não me resolven<strong>do</strong> no que fizesse, porque a<br />

companhia que a mulher levava e o sombrio <strong>do</strong> bosque em que entravam,<br />

juntamente com as horas em que a noite disfarça<strong>da</strong> em crepúsculos se<br />

avizinhava, me retiravam de que a seguisse. Por outra parte, o ver que me<br />

chamava e a tristeza que nela descobria, indiciavam que algum mal temia, em<br />

que queria que lhe valesse, e parecia covardia desumana desamparar a quem<br />

favor me pedia; e assim resoluto neste parecer, desmontei <strong>do</strong> cavalo em que<br />

vinha e, atan<strong>do</strong>-lhe apressa<strong>da</strong>mente as rédeas a uma árvore, entrei em seu<br />

seguimento pelo bosque, quan<strong>do</strong> já as sombras com o arvore<strong>do</strong> facilmente me<br />

encobriam; e ven<strong>do</strong> que eles paravam, me fui chegan<strong>do</strong> entre as ramas para<br />

ouvi-los, e vi que o sol<strong>da</strong><strong>do</strong> que vinha com a mulher lhe disse assim:<br />

- A este lugar te quis trazer, falsa Teo<strong>do</strong>ra, para vingar meus agravos e<br />

<strong>da</strong>r fim a teus enganos com tua vi<strong>da</strong>, pois sei que me tens ofendi<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> eu<br />

por tua causa há tantos anos que an<strong>do</strong> de minha pátria e <strong>da</strong> casa de meus pais<br />

desterra<strong>do</strong>.<br />

Ao que a aflita mulher respondeu assim:<br />

- Bem parece, ingrato Maurício, que ven<strong>do</strong>-te tão endivi<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

obrigações que me tens, queres quebrar com a dívi<strong>da</strong> por ver-te impossibilita<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> paga. Ai de mim, que mal fundei minhas esperanças, pois imaginan<strong>do</strong> que<br />

sobre amor as levantava, vejo agora que edifiquei sobre a maior ingratidão<br />

para lamentar a ruína! É possível, Maurício, que me culpas a mim, sen<strong>do</strong> tu o<br />

culpa<strong>do</strong>? Que me acriminas ofensas, sen<strong>do</strong> eu a ofendi<strong>da</strong>? Já não te lembra<br />

que por ti deixei meu próprio esposo, desterran<strong>do</strong>-me por tantas terras por<br />

seguir-te? Mas é castigo de minha livian<strong>da</strong>de que seja hoje de ti aborreci<strong>da</strong>,<br />

pois engana<strong>da</strong> deixei por ti meu esposo de quem era com extremos ama<strong>da</strong>. Ai<br />

de mim, que me perdi por seguir-te, que como eras guia enganosa, só me<br />

encaminhaste ao precipício em que me vejo! Dizes que me trouxeste a esta

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