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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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436 Padre Mateus Ribeiro<br />

vossa vingança a inveja <strong>do</strong> que a desagravo, porque o tempo com mu<strong>da</strong>r os<br />

motivos, mu<strong>da</strong> às acções o título que adquiriam. Do empera<strong>do</strong>r Adriano<br />

escreve Sabélico que antes de ser empera<strong>do</strong>r desejava vingar-se de um<br />

cavaleiro romano seu inimigo, o qual fican<strong>do</strong> mui intimi<strong>da</strong><strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o viu eleito<br />

empera<strong>do</strong>r, ele com rosto alegre lhe disse que não temesse, que o tempo lhe<br />

<strong>da</strong>va já carta de seguro contra sua vingança, porque o que de antes se<br />

atribuiria ao valor, agora podia julgar-se desacerto <strong>da</strong> tirania. Costumavam os<br />

atenienses a lei <strong>do</strong> ostracismo, em que para a segurança <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

república desterravam de Atenas os varões mais insignes, ricos e poderosos<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de; e porque vieram um ano a desterrarem a Hiperbolo, que era um<br />

homem inquietíssimo, mas baixo e pobre, o que ele estimou por favor, pois<br />

com isso o faziam conheci<strong>do</strong> como aos grandes varões que tinham desterra<strong>do</strong>,<br />

nunca mais os atenienses usaram <strong>do</strong> ostracismo e derrogaram a lei que até<br />

então tinham observa<strong>do</strong>.<br />

Há tempos, senhor Felizar<strong>do</strong>, em que as satisfações não tem lugar<br />

porque se veriam os motivos delas em outros diferentes, porque o mun<strong>do</strong><br />

avalia as cousas mais pelo que ao presente parecem que pelos motivos que de<br />

antes tiveram, e assim que nenhum bom juízo pode culpar-vos, porque <strong>da</strong>s<br />

ousadias de Alberto vingardes-vos então não era possível e agora já não é<br />

decente; e se Amatilde obrou como mulher, ninguém pode culpar-vos em<br />

obrardes vós como prudente, pois sois <strong>do</strong>uto e ajuiza<strong>do</strong>. E se quereis alguns<br />

dias divertir este pesar de que vos mostrais tão oprimi<strong>do</strong>, podeis acompanhar-<br />

nos nesta devota romaria que à Casa Santíssima <strong>do</strong> Loreto fazemos, avisan<strong>do</strong><br />

primeiro por carta aos senhores vossos pais, para lhes aliviardes a inquietação<br />

<strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s; que porventura com a vista de tão vários lugares se vos<br />

divertirão os sentimentos que a fresca memória de Amatilde vos representa tão<br />

vivos, pois a mu<strong>da</strong>nça de terras, ares e sítios mil vezes sara os achaques <strong>da</strong><br />

pena e as enfermi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> paixão quan<strong>do</strong> incuráveis parecem.<br />

- Venturoso encontro foi o vosso para mim (disse Felizar<strong>do</strong>), pois nele<br />

vão sentin<strong>do</strong> minhas tristezas as primeiras sombras de alívio desde que me<br />

assaltaram as implacáveis on<strong>da</strong>s de meus pesares. Bem disse o Séneca 427<br />

que a conversação de um discreto era guia <strong>do</strong>s passos que <strong>da</strong>va em seu <strong>da</strong>no<br />

Senec, Epist. 87.

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