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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 515<br />

Depois <strong>da</strong> ressurreição, os corpos <strong>do</strong>s bem-aventura<strong>do</strong>s uni<strong>do</strong>s a suas<br />

almas se revestirão <strong>da</strong>queles quatro <strong>do</strong>tes soberanos, que são: clari<strong>da</strong>de, com<br />

que serão mais resplandecentes que o sol; impossibili<strong>da</strong>de, com que não<br />

poderão padecer moléstia alguma; subtileza, com que poderão penetrar por<br />

to<strong>do</strong>s os corpos sóli<strong>do</strong>s, como o sol com seus raios penetra o vidro e cristal<br />

sem ofendê-los; e o <strong>do</strong>te <strong>da</strong> agili<strong>da</strong>de, com que poderão assistir nas maiores<br />

distâncias sem dispêndio <strong>do</strong> tempo. Esta vi<strong>da</strong>, que só pode chamar-se vi<strong>da</strong><br />

porque só nela não há nem assombros <strong>da</strong> morte, nem varie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> tempo,<br />

nem moléstia <strong>da</strong> velhice, antes o flori<strong>do</strong> <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, o total recreio, a maior<br />

delícia, é a que logram e lograrão eternamente os venturosos mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong><br />

celestial Jerusalém: festas sem fim, músicas sem termo, delícias sem medi<strong>da</strong>,<br />

júbilos perduráveis, alegrias incessáveis, glórias permanentes em que os<br />

gostos correm duração com a eterni<strong>da</strong>de. Enquanto an<strong>da</strong>mos no vale de<br />

lágrimas desta vi<strong>da</strong> mortal, diz S. João Crisóstomo 504 , só com o pensamento e<br />

o desejo podemos subir a este monte resplandecente <strong>da</strong> glória, mas nem<br />

explicá-lo com palavras, nem descrevê-lo com eloquência. Porque o mais que<br />

podemos dizer é um átomo apenas <strong>do</strong> que lá se possui e <strong>da</strong>s felici<strong>da</strong>des<br />

inefáveis que lá se logram.<br />

Consola<strong>do</strong> ficou o enfermo Rogério de ouvir a Felisberto e muito alivia<strong>do</strong><br />

em o penoso de suas tristezas, e respondeu assim:<br />

- Muita consolação recebeu meu coração, venerável senhor, em ouvir-<br />

vos, e só estimara, para ser meu alívio perfeito no que pode receber-se nesta<br />

vi<strong>da</strong>, que me declarásseis como aos bem-aventura<strong>do</strong>s em a eterni<strong>da</strong>de nem as<br />

festas <strong>da</strong> glória os cansam por contínuas, nem desejam ver mais mun<strong>do</strong> que o<br />

que logram? Porque vemos na terra tão inquietos os humanos desejos, que<br />

to<strong>do</strong> o continua<strong>do</strong> enfastia e to<strong>do</strong> o novo serve de agra<strong>do</strong>.<br />

- Rústica pergunta é esta (respondeu o Ermitão) e que tem facilíssima<br />

resposta. Para o que haveis de advertir que a razão porque nesta vi<strong>da</strong> nossos<br />

desejos an<strong>da</strong>m tão inquietos, que em na<strong>da</strong> descansam, é porque está nosso<br />

coração fora de seu centro, que é o sumo bem; e assim como to<strong>da</strong>s as cousas<br />

fora de seu centro não admitem sossego e estão violenta<strong>da</strong>s, assim não sabe<br />

nosso desejo <strong>da</strong>r-se por satisfeito em na<strong>da</strong> desta vi<strong>da</strong>, até parar em a visão<br />

504 Chrys.

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